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O que é ESG? - RMAI

O que é ESG?

Por Sofia Jucon

Os Princípios ESG (Environmental, Social and Governance, sigla em Inglês para Meio Ambiente, Social e Governança) estão causando impactos nas organizações sob a ótica dos executivos e dos investidores, que estão deixando de tratar a sustentabilidade apenas como projetos sociais patrocinados pela empresa para se tornar uma estratégia do negócio.

O movimento ESG começou entre os anos 2004 e 2005 em meio a uma crescente preocupação com os impactos ambientais e sociais das atividades das empresas. Com o aumento da conscientização da sociedade sobre esses temas, os investidores passaram a exigir das empresas informações mais detalhadas sobre suas práticas de sustentabilidade.

Com esse movimento em expansão, a sigla ESG passou a ser a mais citada pelo mercado financeiro e também nos demais segmentos da economia nos últimos três anos. Durante o Fórum Econômico de Davos, na Suíça, em 2020, o tema chamou a atenção e logo em seguida ganhou o status de assunto prioritário no contexto global, graças a manifestações das maiores instituições financeiras do mundo, as quais alertaram as organizações para a importância de levar em conta esses parâmetros para atrair investidores. Na ocasião, foi divulgado um relatório com definição de métricas comuns para a criação de valor sustentável, de acordo com os pilares ESG.

Princípios ESG

Segundo Patrícia Almendro Ruiz diretora técnica na Soldí Ambiental e secretária executiva da Associação Brasileira das Empresas de Consultoria e Engenharia Ambiental (Aesas), nas diversas abordagens de “ESG” o foco está no “Investimento responsável”, no entanto, é importante começar a abordar a ferramenta como uma estratégia para um desenvolvimento sustentável, em outras palavras, unir o útil, ao agradável, entender que o movimento não está ligado apenas à investimento, mas sim em uma mudança da consciência para um planeta sustentável. “Mas afinal, o que cada uma dessas siglas representam dentro do contexto “ESG” e quais as ferramentas as organizações devem utilizar para direcionar o rumo para um cenário (de fato) sustentável?”, questiona?

Embora o aspecto “Governança” apareça por último na tradução do inglês literal, Patrícia propõe iniciar essa análise com uma mudança de paradigma colocando-a como o pilar, uma vez que o direcionamento estratégico de uma organização é o que vai direcionar os demais pilares.

Sem alterar o produto por conta da ordem, a especialista aborda o que significa cada sigla dos Princípios ESG: Governança, Ambiental e Social

O “G” que governa

Governança corporativa pode ser definida comoum conjunto de valores, princípios, propósitos, regras e processos que rege o sistema de gestão das organizações. Neste conjunto, aspectos como o propósito dos acionistas, o lucro, a gestão de conflito de interesse e a determinação e atendimento aos direitos das partes interessadas, os chamados “Stakeholders”, integra a estratégia. Na esfera “ESG”, demonstrar governança visa gerar valor por meio de uma gestão ética e, portanto, segura, não só para seus investidores, mas para todas as partes interessadas, sejam elas acionistas, trabalhadores, órgãos reguladores, cadeia de fornecimento, sociedade, etc.

Para complementar as informações sobre essa sigla recomendamos a leitura do artigo “O G do ESG: a relação entre a governança corporativa e o desenvolvimento sustentável”, que pode ser acessado neste link.

O “E” do Environmental

No contexto do “ESG”, os fatores ambientais têm relação com as práticas e as políticas de uma organização em relação aos aspectos ambientais das atividades, produtos e serviços que tais organizações podem controlar ou influenciar levando em consideração a perspectiva de ciclo de vida e o foco no aumento de seu desempenho ambiental. Esses fatores devem levar em consideração a especificidade de cada tipo de negócio e incluir, mas não se limita aos aspectos como emissões de gases de efeito estufa, eficiência energética, poluição, gestão de resíduos, efluentes, etc. Mas na prática, como uma organização pode evidenciar esse comprometimento?

Sistemas de gestão ambiental, como a “ISO 14001 – Sistema de Gestão Ambiental”, são ferramentas poderosas para demonstrar que uma organização tem compromisso com práticas ambientais. Especificamente esta norma tem como algumas de suas diretrizes a necessidade de mapear os aspectos ambientais e mitigar ou reduzir os impactos proveniente de tais aspectos; atender aos requisitos legais, por exemplo, aqueles relacionados à logística reversa; institui obrigação em abordar riscos e oportunidades ambientais como a destinação correta de resíduos perigosos evitando a contaminação de solo e água subterrânea ou a diminuição da produção de tais resíduos; institui a necessidade de planejar ações para alcançar objetivos ambientais, entre os quais a redução das emissões atmosféricas, a redução de recursos hídricos nos processos produtivos, a redução de embalagem, dentre uma série de outros requisitos que, por meio de auditorias internas ou de certificação, evidenciam que a organização possui uma estrutura com práticas ambientais sustentáveis.

O “S” do Social

Consumidores, clientes, doadores, investidores e proprietários estão, de várias formas, exercendo influência financeira sobre organizações em relação à responsabilidade social. As expectativas da sociedade sobre o desempenho social das organizações continuam a crescer. Um número crescente de organizações está se comunicando com suas partes interessadas, inclusive produzindo relatórios de responsabilidade social para atender às necessidades das partes interessadas de informações sobre o desempenho social da organização. No contexto do “ESG”, a dimensão social abrange os riscos sociais e o impacto da relação da empresa com sua força de trabalho, clientes e sociedade. As organizações devem incluir esforços para manter os trabalhadores leais, por exemplo, por meio do emprego de qualidade, pela promoção da saúde e segurança, treinamento e desenvolvimento profissional, inclusão e diversidade. Como ferramenta para implementação de tais fatores, a “ISO 26000 – Diretrizes sobre responsabilidade social” fornece orientações sobre os princípios subjacentes à responsabilidade social, reconhecendo a responsabilidade social e o engajamento das partes interessadas, os temas centrais e as questões pertinentes à responsabilidade social e formas de integrar o comportamento socialmente responsável na organização.

Adoção dos princípios ESG

A adoção dos princípios ESG é importante para o desenvolvimento sustentável. As empresas que adotam práticas sustentáveis contribuem para a preservação do meio ambiente, o desenvolvimento social e a promoção da governança corporativa.

O envolvimento das empresas com o ESG vem crescendo nos últimos anos. Cada vez mais empresas estão adotando práticas sustentáveis, como redução do consumo de energia, redução da emissão de gases poluentes, promoção da diversidade e inclusão e implementação de políticas de compliance.

Para Dani Verdugo, CEO do Grupo THE, o ESG não está relacionado apenas às boas práticas, ele interfere diretamente no desempenho de qualquer empresa. “A agenda ESG é essencial para a sustentabilidade dos negócios – o fato é que, em algum momento, as empresas só vão existir se estiverem alinhadas aos três pilares da agenda. Para termos ideia dessa importância, uma pesquisa da Millenium Survey aponta que empresas com práticas ESG são as preferidas de 42% da geração Z. Além disso, 38% deixariam de comprar produtos de marcas que tenham má influência no meio ambiente. Por conta da aderência a implementação da agenda, negócios que seguem boas práticas ambientais, sociais e de governança são mais estáveis, podem trazer mais lucratividade no longo prazo, e consequentemente, mais valiosos”, revela Verdugo.

O executivo destaca que o ESG é o futuro das empresas por diversos motivos, desde o sucesso empresarial até a contribuição para um mundo melhor. “A agenda impacta diretamente na forma em que as empresas trabalham e também são vistas pelos clientes e consumidores. No âmbito social, o principal impacto da agenda é na geração de empregos e no investimento na comunidade local. Quando falamos no âmbito da governança, por exemplo, as boas práticas de conduta da empresa e ética gera um bom posicionamento e reputação. O fato é que todos os princípios da agenda são de impacto e independem de porte e setor”, finaliza Verdugo.

Lembramos ainda da relação do ESG com a segurança e saúde do trabalho. A SST, no âmbito do S do Social, é um dos pilares do ESG. Empresas que adotam práticas sustentáveis de segurança e saúde do trabalho promovem a saúde e o bem-estar de seus funcionários, contribuindo para o desenvolvimento de ambientes de trabalho mais saudáveis e seguros.

Principais desafios

A adoção dos princípios ESG pode ser um desafio para as empresas, pois requer mudanças significativas em seus processos e operações. Alguns dos principais desafios incluem:

Investimentos: a implementação de práticas sustentáveis pode exigir investimentos significativos, que podem ser um obstáculo para pequenas e médias empresas.

Educação: muitas empresas ainda não estão familiarizadas com os princípios ESG e podem ter dificuldade em implementá-los.

Regulamentação: a regulamentação sobre ESG ainda é incipiente em muitos países, o que pode dificultar a implementação de práticas sustentáveis.

A advogada Bianca Nascimento Lara Campos ressalta ainda que a liderança é fundamental para garantir que  a agenda ESG seja incorporada na estratégia da empresa e seja devidamente implementada em todas as áreas da organização. “Sem o comprometimento da alta direção, a implementação dessa agenda pode ser vista como uma tarefa secundária e não receber a devida atenção e recursos”, diz.

Para solucionar essa dificuldade, é importante que se compreenda a importância da implementação do ESG e seu impacto nos negócios a longo prazo. Uma abordagem eficaz pode ser fornecer educação e treinamento aos líderes sobre o tema, os benefícios para o negócio e o impacto positivo que a questão pode ter na sociedade e no meio ambiente.

Além disso, Bianca destaca que a alta direção deve ser envolvida no processo de definição de objetivos, estratégias e planos de ação para a implementação da agenda ESG. Cabe a ela liderar o desenvolvimento de políticas, programas e processos para garantir a implementação efetiva em toda a organização.

Outra forma de garantir esse envolvimento com as mudanças pode ser a criação de incentivos e recompensas para os líderes que apoiam e promovem a implementação da agenda ESG. “A inclusão de métricas e metas ESG no plano de remuneração dos executivos e a avaliação do desempenho em relação a essas métricas podem ajudar a garantir que a alta direção esteja engajada e motivada para liderar a mudança”, salienta a advogada.

Outros desafios apontados por ela, são:

Dificuldades nos controles da cadeia

Muitas das questões ambientais e sociais estão concentradas em terceiros, mas podem ter sérios impactos nas pontuações da empresa em indicadores ESG. Controlar toda a cadeia pode ser uma tarefa difícil, especialmente para cadeias extensas e complexas.

Uma boa forma de agilizar o controle de terceiros é adotar soluções tecnológicas para rastrear e monitorar sua cadeia produtiva, permitindo uma visão mais clara e detalhada das práticas e operações de seus fornecedores. É importante investir numa abordagem que solucione problemas e cause mudanças culturais para só depois pensar em rescisão contratual.

As empresas podem trabalhar em conjunto com seus fornecedores para identificar e resolver questões em matéria de ESG. Isso pode envolver a realização de avaliações e auditorias de fornecedores para garantir que eles estejam em conformidade com os valores ESG. Além disso, é possível fornecer treinamento e recursos para os fornecedores para ajudá-los a implementar boas práticas de ESG em suas próprias operações.

Falta de métricas e indicadores

As métricas e indicadores são importantes para avaliar o desempenho em relação à agenda ESG. Sem elas, é difícil avaliar o progresso e o impacto das iniciativas ESG. Além disso, a falta de indicadores pode dificultar a comunicação com os stakeholders, que estão cada vez mais exigentes em relação à transparência e responsabilidade das empresas.

Para solucionar essa dificuldade, é importante determinar métricas e indicadores relevantes para a sua realidade, considerando seus objetivos, desafios e áreas de atuação. Essas métricas e indicadores devem ser desenvolvidos com base em um entendimento claro dos impactos econômicos, sociais e ambientais da operação.

Uma boa forma de encontrar as métricas que são relevantes para o seu caso é adotar um ou mais dos frameworks ESG, que serão mais bem discutidos no item seguinte.

Não saber como estruturar os dados

Um dos principais desafios dos profissionais da área jurídica é colocar o conhecimento em prática, de forma clara e concisa, para que os saberes possam ser compartilhados e se tornem úteis na empresa. Com os relatórios ESG, isso não é diferente.

A experiência mostra que recorrer a modelos e soluções prontas nem sempre é uma boa ideia. Quem nunca recebeu um modelo de contrato que não servia para o caso? Ou uma sugestão de redação que, na prática, não resolve as questões do caso concreto? Sabemos que os modelos parecem uma boa solução para quem não sabe por onde começar, mas é importante ter cuidado e nunca deixar de fazer o raciocínio para cada caso, do começo ao fim.

Uma forma de tornar os dados dos relatórios ESG mais palatáveis, padronizados e comparáveis, é adotar formatos já consagrados no mercado, também conhecidos como frameworks. Ao escolher um framework, você conseguirá informar ao destinatário da informação qual é a “linguagem” que você escolheu, mas sem deixar de fazer as análises que cabem ao profissional de compliance.

Não existe um padrão obrigatório nem uma linguagem universal. Ainda assim, é importante conhecer as formas mais comuns e adaptá-las ao seu contexto. Ela indica as publicações ligadas ao Global Reporting Initiative (GRI); Sustainability Accounting Standards Board (SASB); Integrated reporting (IR);  e o Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD).

Mercado de trabalho na área de ESG

O mercado de trabalho na área de ESG está em crescimento. As empresas estão cada vez mais buscando profissionais qualificados para implementar e gerenciar suas práticas sustentáveis.

Diante dessa tendência, a oferta de empregos relacionados à sustentabilidade está prevista para crescer 33% até 2027 no Brasil, o que deve abrir cerca de 1 milhão de novas oportunidades para quem busca por cargos na área, conforme o estudo da Future of Jobs, em parceria com o Fórum Econômico Mundial e Fundação Dom Cabral.

“O desenvolvimento de práticas de ESG representa um avanço importante na recomposição da distribuição de resultados na sociedade e, principalmente, melhora e qualifica o relacionamento das empresas com a questão ambiental, econômica e social – tão essenciais de serem repensadas para termos um planeta sustentável. Trabalhar estes pilares com auxílio de profissionais qualificados é fundamental para expansão e consolidação das empresas”, explica Dione Manetti, CEO da Pragma Soluções Sustentáveis, especialista em logística reversa de embalagens pós-consumo.

Norma ESG

Em dezembro de 2022 foi lançada a primeira norma do Brasil e do mundo voltada à gestão de ESG (Social, Ambiental e Governança): a PR 2030, conhecida também como Prática Recomendada 2030, e fruto de um amplo trabalho liderado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e pela Organização Internacional de Normalização (ISO). A Prática Recomendada 2030 da ABNT é uma norma que visa auxiliar as organizações a incorporarem os princípios do ESG em suas atividades.

A Prática Recomendada 2030 é dividida em três partes:

Parte 1: Conceitos e diretrizes gerais: esta parte define os conceitos básicos de ESG e fornece diretrizes gerais para a sua implementação.

Parte 2: Modelo de avaliação e direcionamento: esta parte apresenta um modelo para avaliar o desempenho de uma organização em relação ao ESG.

Parte 3: Critérios específicos: esta parte apresenta critérios específicos para avaliar o desempenho de uma organização em cada um dos três pilares do ESG: ambiental, social e governança.

A Prática Recomendada 2030 é uma ferramenta importante para as organizações que desejam se tornar mais sustentáveis. A norma fornece orientações claras e práticas para a implementação de práticas sustentáveis em todas as áreas da organização.

Aqui estão alguns dos principais benefícios da implementação da Prática Recomendada 2030:

  • Melhorar o desempenho ambiental, social e de governança da organização: a norma ajuda as organizações a identificarem e mitigarem seus impactos negativos sobre o meio ambiente, a sociedade e a governança.
  • Reduzir custos: a adoção de práticas sustentáveis pode ajudar as organizações a reduzir custos, como custos de energia, água e resíduos.
  • Atrair e reter talentos: os profissionais estão cada vez mais interessados em trabalhar em organizações que se preocupam com a sustentabilidade.
  • Melhorar a reputação da organização: as organizações que são reconhecidas por suas práticas sustentáveis ganham a confiança de seus stakeholders.

A Prática Recomendada 2030 é uma ferramenta valiosa para as organizações que desejam se tornar mais sustentáveis e competitivas. A norma fornece orientações claras e práticas para a implementação de práticas sustentáveis em todas as áreas da organização.

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