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Inovação fomentada pela indústria gera novos bionegócios na Amazônia - RMAI

Inovação fomentada pela indústria gera novos bionegócios na Amazônia

O Programa Prioritário de Bioeconomia aproxima a indústria do Polo Industrial de Manaus à floresta amazônica de forma sustentável e inovadora

Por admin

Paulo Alexandre Simonetti

M.Sc. Eng. em Biotecnologia com ênfase em Gestão da Inovação, MBA em Gestão de Negócios e em P&D de Cosméticos e atual Líder de Captação e Relacionamento com o Investidor do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), do Idesam.

 

Carlos Gabriel Koury

Engenheiro Florestal. Engenheiro Florestal. Diretor de Inovação em Bioeconomia pelo Idesam – Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia.

 

É notável a importância do Polo Industrial de Manaus (PIM) para a região, em especial por motivos econômicos. Em 2022, a Zona Franca de Manaus conta com mais de 500 empresas e de 100 mil empregados. Ao longo dos 55 anos de existência, a geração de emprego e renda garantiu uma alternativa viável para a população local.Porém, em paralelo aosucesso do polo industrial, a recuperação e fortalecimento de cadeias produtivas de origem amazônicas não aconteceram.

Uma prova dessa realidade é que, apesar de o Brasil ser detentor de mais da metade do Bioma Amazônico, oPaís apresenta dificuldades em exportar produtos da região. Dado da Confederação Nacional das Indústrias de 2020 (CNI) descrevem que a participação brasileira no mercado mundial de produtos florestais é de apenas 4%, em um mercado estimado de US$ 350 bilhões.

Se avaliarmos os números individuais dos produtos regionais, pode-se observar que o Brasil não se destaca nos principais mercados. Por exemplo, a exportação de castanha do Brasil (brazilnut) processada é em sua maioria realizada pela Bolívia, possuindo em 2019 mais de 60% do mercado internacional, segundo dados do PEVS, (IBGE, 2022). O mesmo fenômeno ocorre na análise de outros produtos amazônicos, como o cacau e o guaraná.

 

Bionegócios

 

Existem diversos motivos para os entraves das cadeias produtivas amazônicas e muito desses são intrínsecos da realidade local – dificuldades que marcam a história econômica da região, como é o caso da logística em território amazônico e a falta de boas práticas de produção que resultam em produtos de baixa qualidade, o que impede o acesso a novos mercados. É o caso da castanha, que apresenta contaminação por aflatoxinas, caso seja mal armazenada. Essa substância possui teor controlado por autoridades europeias o que inibe a exportação brasileira.

Um exemplo desses desafios foi vivenciado pelo projeto Cidades Florestais, do Idesam, iniciativa de fomento, capacitação e apoio no beneficiamento e comercialização de óleos vegetais e madeira de origem comunitária. “Para mensurar a qualidade dos óleos e manteigas vegetais de associações que compõem a marca coletiva Inatú Amazônia, necessita-se de um equipamento que é caro e de um técnico especializado para operá-lo. Portanto, as análises são realizadas em Manaus ou até mesmo em São Paulo, o que gera custo e tempo, uma vez que o processo de envio, análise e informe do resultado chega a levar um mês, o que gera dificuldades para o desenvolvimento da cadeia de valor”,afirma André Viana, Diretor Técnico do IDESAM.

Vale ressaltar que os Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) possuem ampla experiência na pesquisa dos gargalos e soluções para os desafios das cadeias produtivas amazônicas, e buscam apoio para estabelecer esse conhecimento como uma rede de serviços, agregando valor aos produtos da floresta. Em suma,a resposta para os problemas amazônicos está na própria Amazônia, mas o fomento necessário deve ser direcionado de modo a promover esse conhecimento em soluções de mercado.

 

Programa Prioritário de Bioeconomia

 

Dessa forma, buscando irradiar os resultados do PIM para o desenvolvimento das cadeias produtivas, superar gargalos produtivos e levar os produtos amazônicos para novos mercados, a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) criou o Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), que tem como objetivo auxiliar a aplicação dosrecursos do investimento obrigatório de P&D (principalmente via Lei de Informática) e transformá-los em novos negócios, produtos e serviços para a Bioeconomia amazônica.

Em 2018, foi lançado o edital para chamada pública para coordenação do PPBio, tendo o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) assumido o cargo de coordenador a partir de 2019. Desde então, ao longo dos três anos de existência, são 26 empresas investidoras, representando mais de 40 milhões de investimento e 32 projetos entre finalizados, em andamento ou em fases finais de formalização, com atuações em 12 diferentes cadeias produtivas da Amazônia Ocidental e Amapá. Alguns projetos visam enfrentar algum gargalo das cadeias produtivas locais, outros desenvolvem produtos de alto valor agregado, mas todos são modelados para gerar novos negócios ou fortalecer startups existentes.  Até o momento, mais de 50 novos produtos, processos ou serviços foram ou estão sendo desenvolvidos para essas cadeias produtivas.

Um dos meiosdo PPBio para atingir esses resultados é a busca da conexão entre as inovações tecnológicas das ICTs com as soluções dos entraves das cadeias produtivas amazônicas. Foi realizado o mapeamento dos gargalos produtivosdas cadeias de açaí, castanha e óleos, abrindo-se chamadasparaprojetos e negócios que pudessem solucionar, via P&D,as dificuldades levantadas para a produção dessas matérias primas amazônicas. O PPBio, por sua vez, após identificar os projetos finalistas da chamada, pode apresentar às empresas do PIM para que os recursos de investimento obrigatório apóiem as soluções identificadas.

 

Parcerias internacionais

 

Além da política da Zona Franca de Manaus (Suframa) e das empresas do PIM, essa ação conta como apoio do ImpactHub Manaus e da rede Uma Concertação pela Amazônia, com financiamento do Partnerships for Forests (P4F) – um programa do governo do Reino Unido – e da Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Deutsche Gesellschaftfür Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH.

As iniciativas oriundas desse esforço começam a dar frutos. Cadeias produtivas como a do açaí, possuem quatro projetos em andamento que atuam solucionando entraves como a conservação pós-colheita do fruto, rastreabilidade, plataforma para gestão de dados da cadeia e reuso dos resíduos formados pelos caroços. Outros dois projetos agregam valor ao produto final, como a produção de alimentos funcionais e cosméticos com óleo de açaí. Ao todo, esses projetos representam aproximadamente R$ 5 milhões de investimentos. No mesmo caminho, a cadeia de óleos vegetais possui 10 projetos; de castanha, sete;e de piscicultura, seis.

Dentre dos negócios finalistas das chamadas destacam-se soluções de tecnologia de informação (TI) modeladas para atender a gestão e a rastreabilidade das cadeias produtivas amazônicas. Um deles é o projeto em andamento do instituto CERTI, chamado “Vem de Onde”: o desenvolvimento de aplicativo que irá registrar, mesmo off-line, os lotes de castanha e dados importantes para a cadeia do produto. A startup Agrosmart também conta com um projeto de um aplicativo para gestão da cadeia de açaí e óleos vegetais, destinado a auxiliar as comunidades sobre custos, produção e certificação. O Desenvolvimento de aplicativos como esses agrega valor à matéria-prima amazônica, solucionando entraves reais da cadeia.

 

Inclusão socioprodutiva

 

Boas práticas de produção e garantia de qualidade das matérias-primas são questões essenciais para o fortalecimento das cadeias amazônicas. Dentre os diversos projetos que atuam com essa temática, destaca-se o da startup Inova-Manejo, no Amapá, que visa produzir prensas que possibilitam extrair óleos em alta qualidade, colocando mais tecnologia no processo de extração.

Através do fomento de novas tecnologias e novos negócios na Amazônia poderemos superar os entraves da região, fomentando o desenvolvimento sustentável das comunidades extrativistas,com serviços e soluções para uma bioindústria de impacto positivo para a região. É um olhar para cadeia produtiva do começo ao fim.

A geração de novos negócios em suas mais diferentes formas na Amazônia – cooperativas, negócios de impacto, startups, laboratórios, entre outros -–, que aumentem a capacidade produtiva das cadeias produtivas, garantam a inclusão socioprodutiva e agreguem valor localmente a matéria prima são a chave para atingir o desenvolvimento econômico e sustentável da região. Fato que está totalmente associado à sua respectiva conservação: O valor da floresta em pé gerando produtos de forma sustentável deve ser maior do que os produtos oriundos do desmatamento e da exploração predatória. Só assim a conservação do bioma se tornará condição natural para o desenvolvimento da região.

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