Débora Paiva*
Você conhece o dilema do ‘irmão do meio’? Pois bem, o índice ESG (sigla que identifica, em português, os termos meio ambiente, social e governança) também tem o ‘irmão do meio’.
A sigla ESG, acrônimo formado pelas palavras Environment, Social and Governance, tem ganhado proeminência nos últimos tempos como ocorreu com outra sigla na década de 1990: a RSC (Responsabilidade Social Corporativa). Contudo, apesar de aglutinar três aspectos que o mercado financeiro considera importantes para a sustentabilidade dos negócios, apenas os aspectos ambientais e de governança recebem atenção efetiva na prática. Então, o irmão meio, acaba sendo o ‘S’ (social), que o mercado considera dispensável. Uma pesquisa realizada pelo Itaú BBA, com investidores brasileiros e estrangeiros, perguntou qual desses três pilares eles acham importantes e o ‘S’ (social) não foi citado uma única vez.
Já o ‘E’ (meio ambiente) é o ‘irmão caçula’, favorito da casa, e aquele que é sempre protegido pelos pais. Defender o meio ambiente é “sexy”, é a coisa certa a fazer. Veja que as questões climáticas têm eventos mundiais, cátedras nas universidades, índices nas bolsas de valores, métricas, revistas, etc. Concordo que devemos cuidar do meio ambiente, afinal, por enquanto só temos um planeta para viver certo? Por outro lado, o ‘G’ (governança) é o irmão mais velho que tem a autoridade que os pais lhe atribuem quando ausentes. Afinal, sem governança a empresa pode falir, a corrupção se alastra.
Importância do “S”
Voltando ao irmão do meio, o aspecto social da responsabilidade das empresas, ele não é tão fofinho e queridinho como o irmão caçula e também não tem a autoridade do irmão mais velho e, consequentemente, não é o favorito, simples assim.
Ou seja: o ‘S’ (social) é o ‘irmão do meio’, pois fica espremido entre o ‘E’ e o ‘G’, tenta se destacar, ser ouvido, mas está sempre sem orçamento, sem recursos e sem métricas para validar seus esforços. Se você é o irmão do meio, sabe do que eu estou falando!
É assim que eu vejo o ‘S’ do ESG 20 anos depois que comecei a estudá-lo e a trabalhar em iniciativas de impacto social.
Investiguei práticas desumanas nas cadeias de produção do algodão e do café em todo o mundo e defendi uma tese de mestrado investigando a hipótese de que as marcas se beneficiam de ser socialmente responsáveis. Acredito que elas precisam se importar com o ‘S’ do ESG, focando para dentro e para fora da empresa.
Consegue imaginar um evento mundial, tipo uma COP, para falar da saúde mental dos trabalhadores na qual venham pessoas do mundo todo, incluindo presidentes de empresas e dos países? Esta seria uma pauta do ‘S’. E que tal discutir a diferença salarial entre homens e mulheres na mesma função? Ops! Isto não é sexy.
Como mulher negra que empreende há 15 anos, dar entrevistas, ter trilhado uma carreira corporativa significa muitas coisas:
Minha gratidão aos que vieram antes de mim e lutaram para que marcas tenham um propósito além do lucro. Significa também saber que empresas estão olhando o aspecto social com mais seriedade e impactando a carreira e os negócios de pessoas de grupos sub representados.
- Mestre em Responsabilidade Social Corporativa pela Universidade de Cranfield na Inglaterra, defendeu uma dissertação sobre como a reputação das marcas se beneficia de uma cadeia produtiva ética e inclusiva com o comércio justo (fair trade). Atua há 15 anos como consultora implementando estratégias que integram a diversidade, inclusão e liderança feminina através de treinamentos em clientes como Unilever, Gerdau, Vale, Ifood, Santander e Nivea.