Por Andreieli Pinto
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento listados pela ONU, em 2015, são metas ambiciosas e interconectadas que colocam a sabedoria e resiliência do homem à toda prova para não falar de sua própria sobrevivência no planeta Terra. Os desafios claramente são grandes e colocam também em xeque mate a perenidade das empresas, não importando sua origem nem mesmo que tamanho tenham. O uso de recursos naturais de forma (ir)racional é um dos pontos chaves, questionado por todas as nações.
E os argumentos são mais do que justos. Em um passado não muito distante, assistimos à força da mãe natureza se manifestando em estiagens no Rio Grande do Sul, inundações no Acre, Minas Gerais, litoral Norte de São Paulo, enfim, a lista pode ser extensa e é quase certo afirmar que a maioria dos eventos está relacionada ao aquecimento global. Mas, como conciliar a produção no campo, em larga escala, com o mesmo espaço e o uso sustentável de recursos naturais e trazer melhores práticas para a indústria?
Aquecimento global
Enquanto empresa do setor de nutrição humana e animal, originação e processamento agrícola, estamos cientes de nosso compromisso com as práticas sustentáveis e reafirmamos a cada ano os nossos esforços contínuos para a proteção do meio ambiente. Sabemos que nossa pegada industrial é grande e o quanto é importante reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) relacionadas às nossas atividades comerciais e a toda a cadeia de suprimentos agrícolas.
Nas duas últimas COPs, realizadas no Egito e Reino Unido, respectivamente, entre os avanços conquistados, apresentamos e assinamos uma declaração, ao lado de outras grandes companhias do agronegócio, na qual nos comprometemos em desenvolver em conjunto um roteiro de ações para conter o aquecimento global em 1,5% acima dos níveis pré-industriais e informamos como trabalharemos para reduzir as emissões decorrentes da mudança do uso da terra em nossas operações. Além desses compromissos públicos, temos ainda um programa interno de metas ambientais, chamado Strive 35, no qual buscamos, entre outros objetivos, a adoção de fontes renováveis, visando a economia de recursos e a sustentabilidade ambiental até 2035.
Energia verde
No Brasil, podemos ressaltar alguns números divulgados pelo Ministério das Minas e Energia. Enquanto aqui usamos 40% de bioenergia, 38 países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD) usam 9%. Isto porque nosso tamanho continental nos permite explorar vários recursos, o que nos coloca numa posição muito favorável para liderar um movimento mundial para transição energética limpa. Temos abundância de água, sol, vento e solo. Só a área rural responde pela produção de 70% da energia renovável, um sucesso do campo pouco conhecido.
Na operação brasileira da ADM, demos alguns passos significativos no que tange a redução da intensidade energética. Em Minas Gerais, estado que reúne importantes empresas que atuam na produção florestal e silvicultura, por exemplo, a unidade de Uberlândia é autossuficiente em energia térmica gerada a partir da biomassa de eucalipto de reflorestamento. Importante mencionar que, em 2022, o município mineiro foi responsável por arrecadar US$ 1,17 bilhão em exportação de grãos, o melhor desempenho desde 1997, segundo o último boletim divulgado pelo Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia (IERI/UFU). O feito foi impulsionado pela agricultura, e nós também contribuímos para esse resultado, tendo com grande aliada uma matriz menos poluente.
Dados do Ministério de Minas e Energia apontam que a energia derivada de biomassa hoje corresponde a 10% de toda energia consumida no mundo. Desse percentual, cerca de dois terços é utilizado em países em desenvolvimento. No Brasil, a matriz energética é uma das mais renováveis entre todas as grandes economias mundiais, 48% da nossa matriz é renovável, ou seja, é originária de fontes renováveis, como o sol, vento, água e biomassa.
O uso de biomassa de eucalipto de reflorestamento para geração de energia apresenta diversas vantagens sob o aspecto ambiental. O eucalipto é uma das árvores que crescem mais rápido no mundo, produzindo muita biomassa por unidade de área, é bom agente de controle de erosão e usa pouco defensivo agrícola. Além disso, pode gerar desenvolvimento rural local, com produção de madeira por produtores próximos às indústrias.
Apesar do eucalipto ser um dos vegetais mais usados para produzir energia, estamos também usando recursos internos e externos para identificar novas oportunidades e tecnologias que ajudam a reduzir as emissões de GEE. Dois deles já estão sendo testados na planta de Porto Franco (MA), o bambu e o casquinha de dendê, com ótimos resultados. Tais alternativas mostram ainda que o uso de energia verde está em linha com o conceito de bioeconomia circular, agrega valor na cadeia, contribui para a segurança energética do país com fonte limpa e pavimenta o caminho para a sustentabilidade, um tema estratégico para os negócios de qualquer companhia.
Energia solar e eólica
Outras duas opções de fontes de energia renovável utilizadas para combater o aquecimento global e que estão ganhando cada vez mais espaço no Brasil e no mundo são a energia solar e eólica. Vemos como benéfico o caminho em que as indústrias estão traçando em aderir cada vez mais a múltiplas fontes de energia sustentável para suas operações. E a ADM está avançando neste caminho, Ano passado, iniciamos a implementação da primeira planta solar fotovoltaica da companhia na América Latina. Instalada em Araguari, município localizado no triângulo mineiro, o projeto piloto tem capacidade de produzir em média 600.000 Kwh ao ano, o que seria suficiente para atender cerca de 200 residências por mês. A localização é estratégica para as operações da empresa, que tem três unidades operacionais no Triângulo Mineiro e está próxima de outras sete em Goiás. Com o uso de energia solar em Araguari, a empresa deixará de emitir 62 toneladas de CO2 / ano na atmosfera e economizar algo em torno de 209 mil reais/ano.
Outro movimento que vem ganhando bastante relevância na indústria e pode ajudar no combate ao aquecimento global é o uso de energia eólica. Levantamento da Abeeólica, divulgado em janeiro passado, revela que a capacidade instalada de energia eólica no Brasil chegou a 24,13 GW em 2022. Ao todo, já são 869 parques eólicos, com 9.772 aerogeradores em funcionamento em 12 estados. A maior parte das usinas, 80%, estão no Nordeste. Localizado em Morro do Chapéu e Várzea Nova, na Bahia, entrará em funcionamento ainda em 2023, o primeiro parque eólico da ADM que irá abastecer sete das nossas plantas brasileiras. A autogeração vai proporcionar uma redução anual de emissão de 19 mil toneladas métricas de CO2, mais uma iniciativa que contribui para o combate das mudanças climáticas e reafirma o nosso compromisso com a agenda positiva da ONU.
Andreieli Pinto
Vice-presidente de operações da ADM para América Latina