A Organização das Nações Unidas (ONU) criou o Dia Mundial da Água, em 1992, para estimular a comunidade internacional a colocar em pauta questões essenciais que envolvem a preservação dos recursos hídricos. Em 2023, a campanha tem como objetivo promover o debate sobre o uso racional dos recursos, propondo mudanças nas ações de trato da água, desde o ambiente doméstico ao industrial.
“Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos” (ODS 6) é um dos compromissos principais dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos pela ONU no intuito de agregar diferentes níveis de governo, organizações, empresas e a sociedade para decidir sobre novos caminhos, combater a pobreza, proteger o meio ambiente, promover o bem-estar e melhorar a vida das pessoas em todos os lugares.
No Brasil, segundo dados divulgados pelo Instituto Trata Brasil (2022), com base no Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS – base 2020), o desperdício de água tratada é de 40% antes de chegar aos destinatários finais. O dado traduz que 40 litros se perdem a cada 100 litros de água captada da natureza. Este é um dos desafios que o País ainda enfrenta para a gestão sustentável da água e fica cada vez mais clara a importância da participação da sociedade como um todo.
Os esforços para o uso sustentável da água e sua conservação contam com diversas iniciativas no Brasil. Empresas do setor industrial, do agronegócio, de franquias, de comércios, além de prestadores de serviços e entidades público-privadas investem em tecnologias, infraestrutura, conhecimento, mudança de mindset, políticas públicas, entre outros. Neste especial trazemos um panorama sobre o uso sustentável da água visando a segurança hídrica do País e destacamos algumas ações bem-sucedidas para a sua conservação. Confira!
Falta de água potável preocupa 81% dos brasileiros
Vamos começar com uma pesquisa realizada em 17 países pela GlobeScan, em parceria com a Circle of Blue e o WWF, a qual mostra preocupação global com efeitos da crise climática e os reflexos no fornecimento da água potável.
Neste cenário, 81% dos brasileiros estão muito preocupados com a escassez de água potável — percentual bem acima da média mundial de 58% constatada na pesquisa GlobeScan Radar Survey, conduzida com 30 mil pessoas em 17 países pela GlobeScan, em parceria com a Circle of Blue e o WWF. A preocupação tem motivo: apenas 15% dos entrevistados no Brasil declaram não serem afetados pela falta de água potável e 40% informaram já terem sido prejudicados por secas. Um percentual ainda maior — 84% – está muito preocupado com a poluição dos rios (contra uma média global de 62%). Enquanto apenas 5% disseram não serem afetados pelas mudanças do clima, 68% dos entrevistados disseram ter sido afetados pela alta do preço dos alimentos causada pelo clima.
“A distribuição de água no Brasil é bastante desigual em termos geográficos e sociais, embora o país detenha 12% de toda a água doce do planeta”, explica Helga Correa, especialista em conservação do WWF-Brasil. “Na Amazônia está a maior parte da água doce do país e, ao mesmo tempo, os menores percentuais de acesso a serviços de água potável e esgoto. O crescente desmatamento coloca em risco o regime de chuvas que abastece lençóis freáticos no centro sul do país. No Cerrado, onde nascem oito das doze principais bacias hidrográficas do país, metade das áreas naturais já foram convertidas em lavoura ou pasto. Em todo o Brasil, vemos a superfície de água dos rios diminuindo. Ou seja, já temos evidências suficientes de que o país está a caminho da insegurança hídrica”, afirma.
O WWF defende medidas urgentes de conservação ambiental para garantir a segurança hídrica necessária para o agronegócio, as indústrias, o abastecimento de residências e para a segurança energética do país. “Precisamos acabar com o desmatamento em todos os biomas e restaurar áreas degradadas. No restante do país, salvaguardas previstas no Código Florestal, tais como a exigência da preservação de topos de rio e matas ciliares, precisam ser respeitadas. No caso específico do Cerrado e também do Pantanal, que está secando a olhos vistos, é urgente que a ocupação do bioma respeite um ordenamento ambiental que preserve nascentes”, detalha Helga Correa.
O estudo foi lançado às vésperas do Dia Mundial da Água (22 de março) e da primeira Conferência da Água que a Organização das Nações Unidas realizará em 46 anos, entre os dias 22 e 24 de março. Ele mostra que a preocupação com a escassez de água potável aumentou nos últimos anos em todo o mundo, passando de 49% em 2014 para 61% em 2022 entre os 17 países rastreados de forma consistente. Aumentou também a preocupação global com as mudanças climáticas (45% em 2014 para 65% em 2022). A mudança climática está fortemente ligada à escassez de água: no total da amostra, de cada dez pessoas que se declararam pessoalmente afetadas pelas mudanças climáticas, quase quatro disseram que experimentaram a seca.
Os principais resultados da pesquisa incluem:
- 58% das pessoas em todo o mundo acreditam que a escassez de água doce é um problema “muito sério”. Mexicanos, colombianos e brasileiros relatam a maior preocupação com o acesso à água, enquanto as pessoas na China, Hong Kong, Japão e Coréia do Sul são as menos propensas a dizer que a escassez de água potável é um problema “muito sério”.
- As pessoas na Argentina, Coréia do Sul, Vietnã, Colômbia, Alemanha e Peru relatam os maiores aumentos de preocupação com a escassez de água no ano passado.
- 30% das pessoas em todo o mundo afirmam que são “grandemente” afetadas pessoalmente pela escassez de água potável, enquanto a maioria global se sente pelo menos ou moderadamente afetada pessoalmente (56%). Apenas um quarto (25%) diz que não é afetado.
- A maioria das pessoas pesquisadas na Colômbia, Itália, México, Peru e Turquia dizem que são muito afetadas pessoalmente pela falta de água potável. Em contraste, menos de um em cada dez diz que foi muito afetado na Alemanha, Japão e Holanda.
- Globalmente, as pessoas em áreas urbanas (32%) são mais propensas do que aquelas em áreas rurais (28%) ou cidades e áreas suburbanas (26%) a se sentirem muito afetadas pela falta de água potável.
- Até 38% das pessoas dizem que foram “muito” pessoalmente afetadas pelas mudanças climáticas, enquanto até 75% foram pelo menos “moderadamente” afetadas.
- As pessoas que dizem ter sido pessoalmente afetadas pelas mudanças climáticas geralmente mencionam a seca como uma das formas pelas quais foram impactadas; 37 por cento das pessoas que vivenciam a mudança climática afirmam pessoalmente que isso ocorre devido à seca.
Para Alexis Morgan, líder global de gerenciamento de água do WWF, “A água não vem de uma torneira — ela vem da natureza. Mas com a perda da natureza e o aumento da instabilidade climática, a escassez de água só piorará, impactando sociedades e economias em todo o mundo. No entanto, por meio da colaboração, restaurando pântanos, reconectando rios e reabastecendo aquíferos, provamos maneiras de enfrentar esses desafios compartilhados de água. É hora de investir urgentemente nessas soluções”, avalia.
- Carl Ganter, diretor administrativo da Circle of Blue, declarou: “Estamos vendo uma rara convergência, quando a opinião pública está se alinhando com realidades profundas, à medida que o mundo enfrenta desafios crescentes de água que afetam a forma como cultivamos nossos alimentos, geramos nossa energia e apoiamos uma economia e um meio ambiente sustentáveis. Esta pesquisa com cerca de 30 mil pessoas mostra definitivamente que os cidadãos de todo o mundo estão sentindo e falando sobre os efeitos do estresse hídrico e climático. Na véspera da Conferência da Água da ONU, este é um barômetro crucial que revela a crescente demanda pública por ação de líderes políticos e corporativos”.
Para Perrine Bouhana, diretora da GlobeScan, no é nenhuma surpresa que as pessoas estejam cada vez mais preocupadas com a disponibilidade de água potável. As secas do ano passado afetaram a vida de um número incontável de pessoas em todos os continentes. “Os indicadores sugerem que isso provavelmente ficará pior. Os altos níveis de preocupação pública com a água significam que há uma oportunidade agora para governos e ONGs ajudarem pessoas e empresas a entender como suas ações podem genuinamente fazer a diferença para este problema globalmente importante que afeta a todos nós”, frisa.
Projetos da indústria da cerveja
No lado industrial, temos diversas iniciativas. É o caso da indústria da cerveja que tem investido na redução do consumo e preservação das bacias hidrográficas. O setor mapeia e desenvolve projetos para o melhor acesso à água e conservação. Para a indústria da cerveja, a água é o principal insumo e por isso trabalha com uma gestão pautada na redução do consumo e na preservação e saúde das bacias hidrográficas.
“A água é a matéria-prima essencial para a produção da cerveja e representa mais de 90% da composição dos nossos produtos. Para aprimorar a atuação nas bacias hidrográficas que sofrem de estresse hídrico, as associadas do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), mapeiam e desenvolvem projetos para o melhor acesso à água e conservação. Além disso, desenvolvemos parcerias com os usuários locais, comunidade, empresas, agricultores, ONG´s, setor público e privado”, explica Márcio Maciel, presidente executivo Sindicerv.
A Ambev conta com o programa Bacias & Florestas, que colabora na recuperação e preservação de importantes bacias hidrográficas do país. A cervejeira realiza o diagnóstico das bacias e reúne parceiros para traçar um plano local com ações que incluem educação ambiental, restauração ecológica, práticas de conservação e PSA (Pagamento por Serviços Ambientais), nas cinco regiões no Brasil.
Segundo Maciel, iniciativas como essa contribuíram para que a empresa reduzisse o consumo de água por cerveja produzida. De 2005 a 2022, a média para cada 1 litro de cerveja produzida caiu de 5,36 litros de água para 2,4 litros, redução em 55% no período.
Já o Grupo HEINEKEN mantém parceria com a fundação SOS Mata Atlântica, com foco principal na restauração florestal e a proteção dos mananciais na qualidade e quantidade de água disponível. O projeto já trouxe resultados no retorno de nascentes e no incremento do volume e da quantidade de água superficial e subterrânea no entorno da operação, no município de Itu.
Em dez anos, a média de consumo para cada 1 litro de cerveja produzida caiu de 5 litros de água para 3,5 litros, redução de 1/3.
Recursos hídricos na indústria do alumínio
Comprometida com o uso eficiente e seguro da água em suas operações, a Alcoa promove a gestão sustentável de todos os recursos hídricos dentro e ao redor das suas instalações, no Maranhão, Pará e Minas Gerais. A empresa investe em soluções que aprimoram o processo produtivo, ao mesmo tempo em que otimizam o uso da água, gerando menos impacto para o meio ambiente e as comunidades do entorno.
É a partir desta premissa que a companhia cumpre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU), relacionados especialmente com a garantia de água potável e saneamento, indústria, inovação e infraestrutura, além de consumo e produção responsáveis. Todas as prioridades estão definidas na Política Global de Manejo de Água da companhia e alinhadas ao International Council on Mining and Metals (ICMM – Conselho Internacional de Mineração e Metais).
Na Alumar, em São Luís (MA), são implementadas diversas ações voltadas para a preservação da água, eliminação de pontos de descarte de efluentes e reuso destes na produção. Vizinha de uma fábrica da Ambev, a refinaria incorpora ao seu processo produtivo aproximadamente 800 mil metros cúbicos anuais de efluentes que antes eram descartados pela cervejaria; 100% do efluente sanitário gerado na Alumar (aproximadamente 600 mil metros cúbicos/ano) são também reutilizados. Além disso, a empresa possui um processo consolidado de reúso de água de chuva, que é armazenada para reutilização durante o período seco.
Em outra frente de atuação, a Alumar realiza diversos estudos para melhor conhecer a biodiversidade aquática ao redor da refinaria e do porto. Em parceria com a Universidade Federal do Maranhão e com as comunidades locais, já foram identificadas mais de 200 espécies, inclusive bioindicadoras da qualidade do ecossistema. Os estudos são fundamentais para as ações de mitigação e conservação ambiental.
“Quando falamos em deixar um legado positivo para a comunidade, não pensamos somente em ações para o futuro. Estamos focados também no agora, com soluções que resultam em valorização dos recursos hídricos, do meio ambiente e que beneficiam as comunidades em que estamos inseridos”, explica Otávio Carvalheira, CEO da Alcoa no Brasil.
Já em Juruti (PA), um dos principais investimentos relacionados à gestão de águas é resultado de uma parceria entre a Alcoa Foundation, prefeitura, sociedade civil e o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). A Área de Proteção Ambiental (APA) Jará foi criada entre a sede do município e o Lago Curumucuri, em dezembro de 2020. A APA tem como objetivo garantir a conservação de 5 mil hectares de floresta, entre áreas de várzea, igapós, igarapés e lagos, e ordenar o uso sustentável da região, inclusive da pesca.
Menos consumo nos processos têxteis
A Cedro Textil, considerada pioneira no ramo de tecelagem no Brasil que completou 150 anos e investe constantemente em melhoria de processos e ações voltadas para o uso adequado da água. O gerente industrial da Cedro, Euler Estanislau, afirma que não é possível pensar na indústria hoje sem que ela esteja de acordo com metas e agendas de sustentabilidade: “Em uma iniciativa inovadora, a Cedro implementou, há 30 anos, uma estação de tratamento de efluentes em Sete Lagoas e o projeto vem se modernizando ao longo dos anos, desde então. A água usada no processo de produção do tecido é retirada de um poço artesiano e 40% dela retorna ao processo para reaproveitamento, de diversas formas.
Segundo ele, empresas ao redor do mundo utilizam, em média, 91 litros de água para beneficiar um quilo de tecido. “Hoje, na Cedro, conseguimos atingir a meta de 36 litros de água para cada quilo de tecido, o que é excelente. Investimos em corantes biodegradáveis que permitem lavagens de tecido mais eficientes e, consequentemente, geram menor volume de resíduos e menos poluição. Os artigos No Wash, Splash e Splah Denin, por exemplo, são tecidos que requerem menor utilização de água em processos de lavagem pelo usuário final das peças confeccionadas. Preservar a qualidade da água é essencial para a Cedro.”, conta Euler Estanislau.
Em seu último relatório, a consultoria americana Moody’s Investors Service divulgou dados que concluem que a indústria têxtil ocupa o segundo lugar na lista global dos setores que mais consomem água em seus processos, ficando atrás apenas da atividade agrícola. De acordo com o relatório, a indústria da moda utiliza 10% do abastecimento industrial total de água e os têxteis de acabamento são responsáveis por 20% da poluição global da água industrial.
A indústria têxtil e o mercado da moda estão atentos às mudanças de comportamento do consumidor, a cada dia mais exigente no momento de adquirir produtos que estejam de acordo com práticas sustentáveis de produção e comercialização.
Estanislau destaca que o desenvolvimento sustentável é um dos grandes objetivos da Cedro e a empresa investe em diversas estratégias com o objetivo de diminuir os impactos causados pelo processo industrial. “Para 2023, pretendemos aumentar o investimento e tornar nossos processos a cada dia mais eficientes e adequados às metas estabelecidas pelos órgãos de certificação ambiental, como o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM) e a Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM). Investimos em tratamento da água e mitigação de impacto de resíduos, reciclagem de materiais, adotamos a biomassa como matriz energética e controlamos a emissão de gases poluentes na atmosfera, além de promover ações que impactam diretamente a comunidade. Preservar os recursos naturais e os recursos humanos é essencial para a atividade industrial, não podemos deixar de lado esse compromisso”, finaliza.
Tecnologias acessíveis e inovadoras
Especialista em eficiência hídrica e energética, Wagner Carvalho, CEO da W-Energy, destaca as melhores práticas em termos tecnológicos para evitar o desperdício de água em empresas e residências. Para ele, um tema de destaque nesse assunto é a pegada hídrica. Apesar de grandes avanços, muitas empresas ainda não se conscientizaram da importância de reduzir o volume de água utilizado direta e indiretamente em suas atividades. Além de ser uma questão ética e ambiental, a utilização da água com consciência e estratégia pode gerar economia financeira e tornar a empresa mais competitiva. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a demanda global por água no setor industrial deve aumentar, até 2050, cerca de 400%. No Brasil, a cada segundo, são retirados dos rios 2,3 milhões de litros para a fabricação de bebidas, alimentos e cosméticos e esse consumo só perde para o da agricultura.
De acordo com Carvalho, aquilo que compramos e consumidos tem um grande impacto no meio ambiente. “Ao conhecer a pegada hídrica de um produto, é possível tomar decisões mais conscientes em relação ao consumo de água, escolhendo produtos que utilizem menos água em sua produção e que tenham uma cadeia de produção mais sustentável. Na gestão empresarial, por exemplo, a eficiência hídrica pode trazer benefícios econômicos, sociais e ambientais, pois melhoram a imagem junto aos consumidores, reduz custos e mitiga riscos associados à escassez de água”, diz.
Além da conscientização, colocar em prática a economia do recurso hídrico de forma estratégica e eficaz é extremamente importante para se obter resultados palpáveis. Uma novidade disponível na W-Energy já auxiliou centenas de empresas a economizar milhões de litros de água: tecnologia IoT, oriunda de sonar de submarino, que detecta vazamentos em tubulações. Essa técnica permite identificar com precisão onde há desperdício de água e agilizar o processo de reparo. Além disso, a tecnologia possibilita a medição do consumo de água em tempo real e permite que as empresas tenham um controle mais preciso do volume utilizado e identifique pontos de desperdício ou ineficiência.
Outras práticas aplicáveis em residências e empresas para reduzir o consumo de água e aumentar a eficiência dos processos produtivos, de acordo com o especialista Wagner Carvalho, são:
– Instalar dispositivos economizadores de água: Esses dispositivos, como arejadores de torneiras e chuveiros, reduzem o fluxo de água sem afetar o desempenho.
– Fazer manutenção regular em encanamentos: Vazamentos podem desperdiçar grandes quantidades de água ao longo do tempo, por isso é importante fazer manutenção regular em encanamentos e consertar vazamentos rapidamente.
– Coletar água da chuva: Utilize a água da chuva para regar plantas e jardins, lavar carros e até mesmo para descarga em vasos sanitários.
– Utilizar tecnologias eficientes: Escolha eletrodomésticos e equipamentos de irrigação com tecnologias que economizem água, como máquinas de lavar roupa com carga automática e sistemas de irrigação por gotejamento.
– Evitar desperdícios no dia a dia: Feche a torneira enquanto escova os dentes ou faz a barba, use a descarga do vaso sanitário de forma consciente e evite lavar calçadas ou quintais com mangueira.
Osmose reversa direta no tratamento do chorume
No Brasil, a Wehrle-do-Brasil, empresa do grupo Ambiensys e especializada em tratamento de água e efluentes, destaca a relevância da osmose reversa direta no tratamento do chorume, líquido tóxico e altamente poluente gerado em aterros sanitários.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), aproximadamente 35% da população brasileira ainda não possui acesso a serviços de saneamento básico, o que contribui para a poluição dos recursos hídricos. Além disso, a ANA estima que 56% das bacias hidrográficas do país estão em situação crítica ou de alerta em relação à qualidade da água.
Diante desse cenário preocupante, a tecnologia de osmose reversa direta desenvolvida pela Wehrle se mostra como uma solução inovadora no tratamento do chorume, evitando a contaminação do solo e das bacias hidrográficas próximas aos grandes aterros sanitários. Ao final do processo de purificação, os contaminantes presentes no chorume são retirados, tornando-o próprio para reuso ou descarte seguro no meio ambiente.
“A companhia investe constantemente em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias para preservar e melhorar a qualidade da água, alinhando-se com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU”, destaca William Padilha, diretor técnico da Ambiensys.
No município de São Gonçalo, no Rio de Janeiro, o aterro sanitário do Ecoparque da Orizon foi um dos primeiros do país a implantar a tecnologia de osmose reversa. A água limpa resultante do processo é utilizada para atividades como molhar o solo do local. No sul do país, o aterro sanitário do Complexo Industrial Ecotecnológico – CIETec, localizado em Paranaguá, também recorre à tecnologia para evitar a contaminação do solo da região.
“Além de reforçar nosso compromisso com a preservação dos recursos hídricos, estamos sempre em busca por soluções inovadoras e sustentáveis no tratamento de água e efluentes. Nosso objetivo, além de debater a problemática da água – não apenas no dia 22 de março, mas no ano todo – é promover um futuro mais limpo e saudável para todos”, finaliza Padilha.
Tratamento e reciclagem de efluentes
O processamento de lodo de ETE e resíduos industriais estão garantindo a qualidade do rio Jundiaí, em São Paulo, e gerando produção de 30 mil toneladas anuais de fertilizante orgânico para a agricultura. O projeto conta com a participação de Lívia Baldo, especialista em gestão de resíduos e gerente da Tera Ambiental, empresa especializada na valorização de resíduos orgânicos líquidos e sólidos, que produz fertilizante orgânico a partir da compostagem de lodo da Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) e resíduos orgânicos.
Ela faz um importante alerta: 25% da população mundial, ou cerca de dois bilhões de pessoas, não têm acesso à água potável, recurso essencial para a vida. É o que demonstra o recente estudo Situação da Água Potável no Mundo, realizado em conjunto pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e Banco Mundial. Em 2050, a carência poderá atingir cinco bilhões de habitantes, indica outro relatório da ONU.
Lembrando que fornecer água e saneamento para todos no planeta é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)/Agenda 2030, Lívia ressalta a importância do tratamento de esgotos e reciclagem dos efluentes para retorná-los de maneira adequada aos corpos d’água e, consequentemente, abastecimento da população. “No Brasil, isso é particularmente significativo, pois o consumo médio por habitante é de 200 litros por dia, segundo a Agência Nacional de Águas, quantidade maior do que a recomendada pela ONU, de 110 litros per capita,”, informa.
Segundo Lívia, o ideal é que os efluentes gerados pelas atividades industriais e urbanas retornem aos rios após tratamento, conforme todas as exigências ambientais, enquanto o lodo gerado no processo seja transformado em produto de valor agregado. É o que se observa na parceria entre a Companhia Saneamento de Jundiaí (CSJ), que trata 3.960 metros cúbicos de efluentes por hora, e a Tera Ambiental, que utiliza o lodo gerado no tratamento para a produção de fertilizante orgânico. Dessa forma, a água antes utilizada volta para o curso dos rios como efluente tratado e o resíduo sólido vira insumo agrícola, num conceito de upcycling e economia circular.
Em 2022, a Tera Ambiental contribuiu para o tratamento de 740 mil metros cúbicos de efluentes, recebidos por meio de caminhões, e produziu 30 mil toneladas de fertilizantes, considerando a compostagem de todo o lodo gerado no processo, incluindo outros resíduos industriais, agroindustriais e urbanos. “Seria importante a multiplicação de modelos semelhantes em todo o Brasil, pois se trata de um processo benéfico ao meio ambiente, à vazão dos rios e ao abastecimento da população com água de qualidade. Há, ainda, o aspecto econômico relativo ao valor agregado de um resíduo que poderia se tornar passivo danoso aos ecossistemas”, ressalta Lívia.
Toda a água consumida pelas pessoas e empresas pode e deve ser tratada. O reaproveitamento é fundamental para poupar os recursos hídricos e para que as futuras gerações não enfrentem o risco de escassez. O despejo de resíduos líquidos e sólidos, principalmente os industriais, em rios e lagos prejudica todo o meio ambiente e reduz a água disponível para o consumo.
Apesar de 70% do planeta ser coberto por água, apenas 1% do total é considerado potável. Deste, 12% estão no Brasil, sendo que 70% ficam na Bacia Amazônica. O restante é distribuído de modo bem desigual pelas regiões do País. Além disso, de acordo com o Instituto Trata Brasil, volume equivalente a 5.336 piscinas olímpicas de esgotos sem tratamento é despejado na natureza diariamente. Por isso, a importância de iniciativas que alterem essa realidade, de modo que água utilizada e escoada seja reciclada e retorne aos rios.
O tratamento adequado dos esgotos e efluentes industriais está intrinsecamente ligado à recuperação e preservação dos corpos hídricos, visto que o lançamento inadequado impacta as características do solo e da água, podendo poluir ou contaminar o meio ambiente. A poluição dá-se quando há modificação do aspecto estético, da composição ou da forma do meio físico. A contaminação acontece quando há mínima ameaça à saúde de pessoas, animais e plantas.
As consequências incluem prejuízos alarmantes para mananciais, desequilíbrio do ecossistema aquático e poluição da atmosfera por gases tóxicos, que se refletem no meio ambiente e na população. Além disso, o erário público é onerado por custos elevados para a recuperação das áreas degradadas. Muitas vezes, empresas judicialmente responsabilizadas pela poluição acabam sendo condenadas criminalmente e ao pagamento de pesadas multas e têm sérios danos à sua reputação perante a sociedade, consumidores e investidores.
Redução do consumo em hospitais públicos
O CEJAM — Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” celebra o Dia Mundial da Água com resultados de um plano em gestão sustentável de recursos hídricos em hospitais públicos – que atingiu a marca de 35% de economia mensal. Entre fevereiro de 2022 e 2023, foram poupados mais de 12 mil metros cúbicos de água.
O Instituto CEJAM elegeu o ODS (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) de número seis (água potável e saneamento), como base para estruturar abastecimento, conservação, consumo e restauração da água e, assim, investir no uso sustentável do elemento à promoção da saúde humana.
Inicialmente, o plano foi implementado no Hospital Geral de Carapicuíba e posteriormente replicado nos Hospitais Geral de Itapevi e na Santa Casa de São Roque – todos geridos pela Instituição em parceria com o poder público.
Conforme Everton Tumilheiro, especialista em Saúde Pública e supervisor de responsabilidade ambiental do Instituto CEJAM, as intervenções foram tecnológicas e humanas e sem qualquer investimento inicial dos hospitais.
“Foi estabelecido um planejamento estratégico para a redução de custo e consumo de água. Nós contamos com uma equipe técnica que atuou na medição, implantação, monitoramento, manutenção e correção de curso, maximizando o potencial de economia das estruturas”, explica.
A analista ambiental do Instituto CEJAM Raquel Quirino destaca que, mesmo com a redução do consumo, não houve qualquer impacto negativo na prestação de serviço. “A garantia da qualidade do serviço se mantém em consonância com os padrões de biossegurança e controle de infecções, conciliada com a economia dos recursos hídricos.”
As modificações estruturais foram simples e geraram grande economia, como, por exemplo, a instalação de economizadores em todos os pontos de consumo (torneiras e chuveiros), garantindo significativa redução de vazão. Outra ação empregada foi a implantação de mecanismos específicos nas descargas de vasos sanitários, especialmente na troca de sistemas de acionamento.
Um ponto complementar que potencializou a redução do consumo foi a implementação do sistema de reuso da água oriunda das instalações de prestação de serviços em hemodiálise, que era desprezada diretamente no esgoto. A água desmineralizada passou a ser armazenada em um reservatório e reutilizada no Centro Médico de Esterilização, especificamente para resfriamento de maquinário e, posteriormente, no resfriamento da central de vácuo.
“A economicidade de recursos hídricos proporciona maior resiliência ao hospital, além de impactos financeiros consideráveis que permitem maior ecoeficiência na gestão dos recursos, especialmente públicos. Ela também fortalece preceitos nobres de gestão ambiental e social, repercutindo em melhores práticas a todos os envolvidos, fomentando e incorporando a sustentabilidade”, finaliza Everton.
Uso sustentável da água no agronegócio
O Dia Mundial da Água chama a atenção para iniciativas que podem contribuir para a melhor utilização da água, principalmente no agronegócio. Uma das ferramentas mais eficientes neste sentido é a irrigação.
Mas irrigar de maneira inteligente e eficiente não é apenas molhar as plantas, é preciso uma verdadeira gestão do recurso, disponibilizando ele no momento certo, na quantidade necessária no local exato. Afinal, ao aplicar água em alta quantidade, por exemplo, ou no momento em que não é necessário, além de poder causar estresse por excesso hídrico na cultura, comprometendo sua produtividade, o agricultor aumentará os custos e consequentemente terá maior desperdício dos recursos.
O Brasil conta hoje com cerca de 8,2 milhões de hectares (ha) irrigados, o que corresponde a 13,24% da área total agrícola, uma realidade ainda muito pequena em relação a outros países. Segundo dados da International Commission on Irrigation and Drainage (ICID), a China é o país com maior área irrigada do mundo, com 65 milhões de hectares, seguido da Índia, Estados Unidos e Paquistão, esse último com 19 milhões de hectares irrigados. Entretanto, o Brasil tem potencial para atingir 55 milhões de ha, apenas sobre áreas que já estão em uso. Mas como expandir a operação sem comprometer os outros usos de recursos hídricos? Por meio da tecnologia.
Com o objetivo de acelerar esse ganho tecnológico, a Lindsay, empresa que produz uma linha completa de sistemas de irrigação, representada pelas marcas Zimmatic™ e FieldNET™, deu início recentemente a um projeto de intercâmbio de conhecimento. A subsidiária brasileira da multinacional americana passou a ser responsável pelas ações da América Latina. Ou seja, o Brasil pode ensinar e aprender com os países vizinhos.
O tema, inclusive, foi recentemente pauta da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) que afirmou que a América Latina e o Caribe podem se consolidar como a principal região exportadora líquida de alimentos do mundo se melhorarem a produção. A declaração foi feita durante a abertura da reunião de alto nível da 37ª Conferência Regional da FAO. “A irrigação pode consolidar essa posição, garantindo não só a produção necessária como mitigar riscos climáticos, como o La Niña, mas também aumentando a relevância Latino Americana no mundo. Além disso, os revendedores têm muito a colaborar entre si para trocar experiências e esse é nosso papel aqui, multiplicar conhecimento e ampliar o uso da tecnologia”, afirma Cristiano Trevizam, diretor de vendas & marketing para América Latina da Lindsay.
Troca de conhecimentos
De acordo com Luis Mendez, gerente de irrigação internacional e responsável pela América Latina e Caribe da empresa, há muitas diferenças nas características da atividade no Brasil em relação aos países vizinhos. “Por exemplo, na Argentina há água de superfície ou de subsolo, enquanto no Uruguai tem que represar o recurso da chuva para irrigar no verão, de tal forma que a fonte de água lá é restrita e finita”, destaca.
Ainda segundo o especialista, de modo geral a América Latina tem mercados maduros no campo para a irrigação por pivô, portanto, o potencial na região é muito grande. Isso porque a técnica serve como um seguro para evitar perda da safra devido às condições climáticas e ainda permite aumentar a produção, tornando o campo mais rentável. “Temos grandes oportunidades nessas áreas, principalmente com os vizinhos Argentina, Uruguai, Paraguai, Bolívia e Chile. Por serem mercados que possuem vantagens logísticas e, em alguns casos também, de acordos comerciais bilaterais”, diz Mendez.
Tecnologia para gestão da água
Durante o crescimento das culturas, cada uma delas expressará demandas hídricas diferentes de acordo com seu estádio fenológico. Ou seja, manter a mesma quantidade de lâminas e o mesmo intervalo de aplicações pode resultar em um maior consumo e desperdício de água, principalmente quando não se leva em consideração o recurso presente no solo ou ainda as chuvas previstas.
A maior economia de água consiste em acertar o momento correto que a planta precisa e na quantidade exata, sempre aproveitando o recurso que já está disponível no solo. Uma das ferramentas eficientes hoje nesse sentido é o FieldNET Advisor. Com gerenciamento remoto, a solução foi desenvolvida pela Lindsay e é totalmente integrada à já reconhecida e consagrada plataforma FieldNET, também da marca.
A solução fornece informações precisas e objetivas de irrigação aos produtores e ainda mostra se os pivôs estão operando como o programado, auxiliando-os nas tomadas de decisões. Com o FieldNET Advisor a ideia é aplicar realmente o necessário, permitindo que as plantas se desenvolvam sem entrar em estresse hídrico.
Ele também fornece dados precisos e simplificados para o manejo do irrigante com grande assertividade. “Esta é uma ferramenta agronômica, que agrega no manejo do nosso cliente. Assim como o próprio FieldNET que há mais de 10 anos é reconhecido mundialmente por sua eficiência e simplicidade de operação integrada, onde os produtores, na mesma plataforma, realizam o gerenciamento dos seus equipamentos e o manejo da área irrigada”, diz Trevizam.
A ferramenta funciona de forma muito simples: basta o produtor inserir a cultura e suas características, o tipo de solo e as datas de plantio e o FieldNET Advisor combinará automaticamente esses dados com informações meteorológicas precisas e dados históricos de irrigação do campo. Em seguida, por meio de modelagem ele monitorará o crescimento da cultura e a profundidade das raízes para verificar a quantidade de água disponível no solo para a cultura e prever assim as necessidades futuras de água da lavoura, a quantidade e o momento ideal para a irrigação, visando atingir a máxima produtividade.
A próxima grande revolução da irrigação será com os pivôs inteligentes, projeto que a Lindsay está empenhada. A meta é desenvolver uma nova categoria mecanizada e autônoma. O equipamento vai além da aplicação e gerenciamento de água tradicional, alcançando e fornecendo uma ampla gama de dados sobre a saúde das lavouras e o desempenho do pivô. A ideia é disponibilizar, simultaneamente ao produtor, informações precisas gerando não apenas economia comprovada de água, energia e outros insumos, como fertilizantes e defensivos agrícolas.
A nova solução reunirá imagens de satélite, aéreas, sensores e câmeras embarcadas no pivô para detectar anomalias em campo, ajudando a tornar mais fáceis as decisões de todo o manejo da lavoura, não apenas da irrigação, otimizando o uso do equipamento. O conceito apresentará a agronomia avançada e diagnósticos preditivos de saúde da máquina com os recursos de telemetria Zimmatic, projetados para entregar safras mais rentáveis e práticas agrícolas mais sustentáveis, expandindo significativamente o que o pivô tradicional é capaz.
Gestão 100% sustentável de todo o ciclo de uso da água
Outro exemplo na área do agronegócio é o da Marajoara Laticínios, na cidade de Hidrolândia interior de Goiás, que possui projetos premiados de aproveitamento ambientalmente correto dos recursos hídricos. Por meio de iniciativas relativamente simples a empresa tem feito uma gestão sustentável de todo o ciclo dos recursos hídricos que usa em seus processos fabris.
Uma dessas iniciativas é o projeto Fertirrigação, que aproveita as águas residuais da fábrica de laticínios. Após serem tratados numa estação de tratamento efluentes (ETE) própria, os recursos hídricos utilizados vão para uma rede de irrigação montada numa área de pasto com 160 mil m², próxima à indústria. Ao invés de descartar essa água no córrego da cidade, ela é usada para irrigar o pasto, mantendo a produtividade do mesmo o ano inteiro.
“O nosso sistema de tratamento da água por flotação assegura uma eficiência superior a 90%, bem mais do que os 60% exigidos pela legislação ambiental. Até então, essa água já devidamente tratada era lançada no Córrego Grimpas. Porém, com esse projeto de fertirrigação conseguiremos dar uma destinação mais sustentável para essa água”, explica o gestor de compras da Marajoara , Vinícius Junqueira.
Modelo
Criado em 2021, o projeto de Fertirrigação pode ser modelo para indústrias de todo o Brasil. Com mais de um quilômetro de tubulações, a rede de fertirrigação é bem mais eficiente do que o convencional uso de valas de distribuição de água. “Trata-se de uma fertirrigação em malha, composta por cerca 600 aspersores, sendo que cada um irá lançar água a uma distância máxima de um raio de 11 metros. Isso faz com que o uso dessa água seja mais racionalizado, desta forma, evitando o desperdício”, detalha Vinícius Junqueira.
O sistema também é composto por três bombas instaladas em tanques especiais, que recebem a água tratada, e podem irrigar 25 mil litros de água já tratada por hora, o que resulta numa capacidade total da rede de irrigar 75 mil litros de água por hora. Em 12 horas o volume de água irrigada chega a quase um milhão de m³.
Para se fazer o manejo rotativo da irrigação, a área de pasto é dividida em piquetes, o que faz com que a produtividade da pastagem aumente até cinco vezes. “Através deste sistema, independentemente do período do ano, se de seca ou não, você terá pasto verde e abundante para gado. E outra vantagem desse sistema é a possibilidade de levar com facilidade suplementação para o pasto, que pode ser diluída na própria água, refletindo no ganho de peso do gado”, explica Antônio Júnior Vilela, gerente industrial da Marajoara Laticínios
Biomassa
O Projeto de Fertirrigação foi implantado com a aprovação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad). Ele completa projeto anteriormente implantado pela indústria: o da Biomassa. Com o tratamento, por meio da ETE, da água usada nos processos fabris da indústria de laticínios, um desafio da empresa era dar uma destinação mais sustentável e ambientalmente correta para o material orgânico que era separado da água após o tratamento.
“Tínhamos um gasto grande com o transporte dessa matéria orgânica que era gerada, para uma usina de tratamento de resíduos sólidos, além do mais, queríamos dar uma destinação mais útil para esse resíduo que é rico em nutrientes como nitrogênio, fósforo e potássio, substâncias importantes para o crescimento de pasto. Então, com a aprovação da Semed, decidimos usar essa biomassa como fertilizante para alguns pequenos produtores que cadastramos para participar do projeto”, conta o presidente do Grupo Marajoara.
Assim, explica Vinícius Junqueira, a empresa consegue tratar de forma 100% sustentável todo o ciclo de uso dos recursos hídricos, desde a captação, passando pelo tratamento da ETE até o descarte da água. “Tratamos a água que usamos, depois de tratada ela é usada no sistema de fertirrigação que, além de irrigar o pasto, reabastece o lençol freático. Também damos uma destinação sustentável para a matéria orgânica que foi gerada após o tratamento os efluentes”, explica
Premiação
Graças a esses projetos da Fertirrigação e da Biomassa, a Marajoara conquistou a primeira colocação na categoria Elementos Naturais na 19ª edição do Troféu Seriema, em 2021. O prêmio de âmbito nacional é concedido pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO). A premiação contou com inscrição de 139 projetos em sete áreas, sendo 16 deles na categoria Elementos Naturais, que teve a água como foco principal, levando em consideração o atual cenário de crise hídrica que vive o País.
Segundo Vinícius, a premiação é um importante reconhecimento para a Marajoara, que tem em sua gênese a inovação e o cuidado com o meio ambiente. “Com investimento em inovação e empenho podemos garantir o retorno de água ao lençol freático e sua disponibilidade futura. Nosso exemplo poderá também estimular outras empresas a adotar a prática 100% sustentável nos próximos anos, pois é um caminho sem volta”, declarou.
Menos resíduos plásticos nas águas brasileiras
Evitar que 119.955 toneladas de materiais plásticos deixem de ir para as águas e sigam para a reciclagem, junto com os demais resíduos reciclados pelo programa so+ma vantagens, equivale uma economia de 54.929.212 milhões de litros de água, 2.398.566 milhões de KWh de energia poupada 137.775.550 milhões de litros de água que deixaram de ser contaminados, 8.896 mil árvores que foram salvas e 2.460.258 milhões de quilos de gás carbônico que deixaram de ser emitidos, evitando os efeitos das mudanças climáticas e aquecimento global.
Os dados são da so+ma, uma ESG Tech que possui hubs de recebimentos em quatro cidades do país: Salvador, Camaçari, Curitiba e Goiânia. Salvador foi a capital em que os moradores mais levaram os resíduos plásticos no ano passado, representando mais de 88.832 toneladas que deixaram de ir para os mares soteropolitanos e foram para a reciclagem. Na capital baiana, a so+ma possui 12 casas de recebimento de materiais. Em Salvador, o programa é realizado em parceria com a Prefeitura Municipal da cidade por meio de um termo de cooperação, além do apoio do Grupo HEINEKEN no Brasil, Engepack, WilsonSons, Ajinomoto, Sotero, iFood, entre outros, e tem como parceiros os hipermercados Assaí e BIG.
Já em Camaçari, cerca de 10.564 toneladas de plásticos foram recebidos em 2022. Na cidade, a so+ma conta com o apoio da Braskem, maior empresa petroquímica das Américas e líder mundial na produção de biopolímeros. A startup também conta com o suporte da Prefeitura de Camaçari, por meio da Empresa de Limpeza Pública de Camaçari (Limpec), além de parceria com a cooperativa local COOPMARC que recebe os recicláveis para gerar renda.
Recentemente, a so+ma estreou mais uma unidade na cidade próximo a praia de Guarajuba. A casa conta com a parceria inédita da The International Cleanup – Ocean Conservancy, organização de defesa ambiental em prol da conservação dos oceanos que atua sem fins lucrativos com sede em Washington, nos Estados Unidos.
Em Curitiba, as unidades de recebimento conseguiram receber mais de 18.600 toneladas em 2022. Em Curitiba, o Programa so+ma vantagens é realizado em parceria com a GSI, Prefeitura Municipal de Curitiba, além do apoio da SIG Group, líder no fornecimento de sistemas e soluções para embalagens cartonadas assépticas. O investimento da SIG Group viabilizou a construção de toda a infraestrutura necessária para incubar a cooperativa, envolver a comunidade e adquirir as recompensas para as trocas do programa.
Já os goianienses conseguiram destinar corretamente cerca de 1.958 toneladas de materiais plásticos. Em Goiânia, conta com o apoio da Cargill, uma das maiores indústrias de alimentos do mundo e presente no Brasil desde 1965. Também tem parceria do Assaí Atacadista, um dos principais atacadistas brasileiros. Outra parceira, é a cooperativa Beija-flor, que receberá os recicláveis para gerar renda.
Em fevereiro de 2023, mês em que a so+ma fez uma campanha aumentando a pontuação do plástico em 50%, foi possível receber cerca de 12.838 toneladas de plásticos. “Se mantivermos o mesmo volume, até o final do ano conseguiremos desviar mais de 152.752 toneladas de plásticos das águas”, conta Claudia Pires, CEO da so+ma.
Monitoramento no Pantanal
Na comemoração do Dia Mundial da Água em 2023, o SOS Pantanal, uma das instituições decisivas para a preservação do bioma sul-mato-grossense, com especial atuação no combate às queimadas e na promoção de advocacy para políticas públicas, anuncia um novo programa, desta vez voltado para o monitoramento da qualidade dos recursos hídricos, o programa Águas do Pantanal.
Com apoio da Fundação Toyota e realizada em parceria com a organização Chalana Esperança, a expedição ‘Águas que Falam’ percorrerá municípios do chamado Pantanal Sul, como Campo Grande, Aquidauana, Miranda e Corumbá.
“A ideia é aprofundarmos a compreensão de que o Pantanal depende da água, assim como é moldado pelo fogo. A gente já trabalha com o fogo, por meio das Brigadas Pantaneiras, e decidimos dar esse passo a mais. Precisamos entender a qualidade da água que está chegando ao Pantanal e se o volume, que está diminuindo, é suficiente para sua preservação. A ideia desta primeira expedição é investigar essas questões porque ainda não há muitos trabalhos perenes sobre essa pesquisa. A expedição “Águas que Falam” terá essa função de entender qual é o cenário, para que a gente possa montar as melhores estratégias, agir e reverter os quadros atuais e fazer previsões sobre o futuro do Pantanal”, explica o biólogo e diretor de Comunicação e Engajamento do Instituto SOS Pantanal, Gustavo Figueirôa.
Além da medição da qualidade da água em diversos pontos do Pantanal Sul, o projeto também contará com uma importante frente de interlocução com as comunidades locais, em que o objetivo é registrar depoimentos de moradores que vivem próximos aos rios, para dar voz a quem tem que lidar com os problemas acarretados pela poluição e diminuição do volume de águas no Pantanal.
Outra característica importante deste projeto é que será possível contar com décadas de experiência da SOS Mata Atlântica, que, por meio do programa Observando Rios, faz o monitoramento da qualidade da água em diferentes bacias de domínio da Mata Atlântica. Esta transferência de tecnologia e experiência tem sido crucial, trazendo mais segurança para esta empreitada.
“Entendemos que não existe conservação sem participação popular. Por isso, é de extrema importância a decisão de envolvermos as comunidades em todo o processo e de utilizarmos da ciência cidadã para entender o que acontece no bioma. O projeto inclui a distribuição de materiais educativos, a capacitação de diferentes comunidades para que elas possam protagonizar o monitoramento e momentos de troca de saberes, em que a visão para o futuro e a conservação das águas do Pantanal poderá ser construída em conjunto”, diz a coordenadora de Educação para Conservação e co-fundadora da Chalana Esperança, Daniella França.
Ainda de acordo com ela, ao unir conhecimento científico e tradicional e, sobretudo, ao convidar as comunidades para protagonizarem este monitoramento, são envolvidas nesse processo não apenas as pessoas que habitam o bioma e são as mais afetadas pelos seus problemas, mas, também, permite-se que sejam traçadas, em conjunto, estratégias de longo prazo para a conservação do Pantanal.
Franquias preservam a água
Ligadas diretamente à água, 5àsec e iGUi contam com processos que evitam o desperdício e o descarte inapropriado do recurso. As duas redes que são destaques nos seus segmentos, são exemplos de marcas que contam com processos visando ao uso consciente, seguindo as normas da legislação ambiental brasileira.
A 5àsec, considerada a maior rede de lavanderias do Brasil, atualmente com 532 operações em todo o país, é reconhecida pela responsabilidade com a preservação do meio ambiente. No sentido de conservar a água, a empresa utiliza produtos biodegradáveis durante as lavagens de itens pessoais e de casa, com objetivo de não poluir as nascentes e os rios. Além disso, segundo a marca, a cada limpeza realizada com, em média, 30 peças de roupas, é possível economizar mais de 80 litros de água potável, se comparado com o uso de máquinas de lavar domésticas. A economia se deve a reutilização de água nos ciclos de limpeza dos equipamentos ao utilizar filtros de alta capacidade. A 5àsec investe em equipamentos tecnológicos inteligentes, que utilizam menor quantidade de litros de água nos enxágues. A economia de água nos equipamentos que utilizamos hoje na rede é de 15% em relação às lavanderias tradicionais do mercado.
Segundo o CEO da 5àsec Brasil, Fábio Roth, ao optar pelos serviços de lavanderia, o consumidor consegue reduzir suas despesas de energia elétrica e água, economizando ainda com os gastos em produtos, que pode chegar a cerca de 30%. Outro ponto positivo é a conservação prolongada da vida útil das peças, já que a empresa conta com processos que revitalizam a fibra têxtil das roupas.
iGUi é uma das formas de se dizer “água” em tupi-guarani. Não à toa, uma das maiores fabricantes e comercializadora de piscina de poliéster reforçado com fibra de vidro do mundo, traz, já no nome, o reconhecimento da importância deste recurso. Afinal, sem água não existe piscina.
Foi pensando nisso, que a marca desenvolveu mecanismos para evitar o desperdício, sobretudo aquele que acontece no momento da limpeza das piscinas. Entre estes estão filtro de poliéster que pode ser limpo com, no máximo 10 litros de água, ao contrário dos tradicionais de areia, que demandam um grande volume de água para serem limpos.
Outro ponto é a maneira como a água é tratada. As piscinas iGUi devem ser filtradas diariamente. Ao invés do cloro livre, para promover a desinfecção, é utilizado o sal marinho. O elemento é considerado, além de mais simples, eficaz e seguro, já que não causa ardência nos olhos, ressecamento dos cabelos e pele e não polui o meio ambiente. Além disso, com o uso do sal, elimina-se o uso de produtos para decantar a sujeira e aspirá-la posteriormente, processo que também desperdiça centenas de litros.
Economia no aeroporto
O Aeroporto Internacional de Guarulhos, administrado pela GRU Airport, reafirma seu compromisso com o meio ambiente, divulgando o último balanço referente à preservação de recursos hídricos e ações de saneamento. Em 2022, foram tratados 693,7 milhões de litros de efluentes e contabilizados 63 milhões de litros de água de reúso com aproveitamento de 100% das águas pluviais coletadas pelo sistema de captação do Terminal 3.
Dos 63 milhões de litros, 34,6 milhões foram captados pelas purgas do sistema de climatização e passaram por um processo de tratamento de filtração. Outros 24,5 milhões são provenientes de águas pluviais coletadas do telhado do Terminal 3 que possui sistemas de captação, adução e tratamento para reutilização da água das chuvas nos sistemas de climatização e nos sanitários.
Já 3,9 milhões de litros foram captados da Estação de Tratamento de Efluente — ETE e, após receberem tratamento de purificação, foram disponibilizados para lavagem e limpeza de pátios e pistas, jardinagem, entre outros.
A Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), instalada dentro do sítio aeroportuário, trata todo o esgoto gerado pelas atividades do aeroporto, captado por meio das elevatórias e bombeado para tratamento.
A ETE possui um sistema de tratamento de esgoto doméstico, tipo aeração profunda, contando com quatro tanques compostos por aeradores helicoidais. No tratamento biológico aeróbio, os microrganismos degradam as substâncias orgânicas, que são assimiladas como “alimento” e fonte de energia, mediante processo oxidativo nos tanques aerados.
A capacidade do sistema da estação é de 180.000 m³/mês. O volume médio tratado no ano de 2022 foi de 57.812 m³/mês, ou seja, uma média diária de 1.927 m³/dia de efluentes que são cuidados dentro do sítio aeroportuário.
O emprego das águas cinza e não potáveis proporciona uma economia que impacta no custo de operação e, principalmente, na preservação dos recursos hídricos demandados pelo aeroporto.