O Dia da Sobrecarga da Terra está se aproximando – 2 de agosto – data que marca o uso de todos os recursos naturais disponíveis para um ano inteiro, segundo a Global Footprint Network, que realiza este cálculo desde 1971. Essa é uma chamada de alerta para a humanidade: em apenas sete meses, foi consumido mais água, matérias-primas, solos e outros recursos naturais do que a Terra é capaz de regenerar em 365 dias. Mudar a forma de produção e consumo, ampliar a educação ambiental, usar tecnologias e fontes de baixo carbono estão entre as soluções apontadas por ONGs e empresas no Brasil.
Sobrecarga da Terra
As consequências dessa sobrecarga da Terra são preocupantes. Significa que até o final de dezembro, teremos utilizado o equivalente a 1,7 planeta para atender às nossas demandas, enquanto só temos um. Além disso, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) continuam aumentando, superando a capacidade de absorção das florestas e dos oceanos, agravando ainda mais o aquecimento global e a crise climática.
Felipe Seffrin, coordenador de comunicação do Akatu, enfatiza a necessidade de ações concretas e efetivas por parte de governos, empresas e consumidores para minimizar ou até reverter esse quadro de sobrecarga. “Mudar nossa forma de produção e consumo, desde a compra até o uso e o descarte, para modelos mais conscientes e sustentáveis, é uma das soluções. Praticando o consumo consciente, podemos regenerar ecossistemas e aliviar a carga pesada que impomos ao planeta”, observa Felipe.
Sobrecarga no Clima
A Sobrecarga da Terra está intrinsecamente ligada à crise climática e ambas precisam ser enfrentadas de forma conjunta, urgente e eficaz, incluindo ações de regeneração de biomas, de redução de emissões e de mitigação e adaptação climática.
Ao consumir recursos naturais em excesso – uma das principais características da humanidade – e, destruir florestas e áreas verdes para suprir nossa demanda de produção e consumo, estamos contribuindo para altas taxas de emissões além de gerar toneladas de resíduos que prejudicam a água, os solos e o ar. E esse problema é recorrente, pois desde a Revolução Industrial, no século 18, despejamos milhões de toneladas de gases de efeito estufa na atmosfera que levaram a um aquecimento de 1,1ºC da Terra, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Essa elevação no aquecimento da Terra, até pode parecer pouco, mas é o suficiente para representar riscos a espécies, ecossistemas e pessoas, seja por tragédias naturais decorrentes de enchentes e deslizamentos de terra, seja pela ameaça às lavouras e à segurança alimentar.
Tudo passa pela alimentação
Um aspecto crucial nesse desafio é a alimentação. A produção mundial de alimentos é responsável por 27% das emissões de GEE e por 70% das águas removidas para uso, além de estar associada ao desmatamento e ao uso excessivo de agrotóxicos.
Ao mesmo tempo onde muitas pessoas passam fome, temos índices altíssimos de desperdícios de alimentos: se todos os alimentos desperdiçados no mundo formassem um país, ele seria o 3º maior emissor de GEE do planeta, atrás apenas de EUA e China. Ou seja, a forma como nos alimentamos é insustentável.
Para o Instituto Akatu, principal ONG do país dedicada à sensibilização e à mobilização para o consumo consciente, repensar o padrão de produção e de consumo de alimentos é um dos caminhos para reduzir a sobrecarga da Terra.
Conheça abaixo algumas dicas para contribuir para a sustentabilidade do planeta:
- Evitar excessos e desperdícios na produção e no consumo
- Priorizar alimentos orgânicos, mais saudáveis e sustentáveis
- Valorizar o pequeno produtor local
- Reduzir o consumo de carne vermelha
- Usar alimentos de forma integral
- Fazer a compostagem dos resíduos orgânicos
- Para mais informações, acesse o guia digital Primeiros Passos.
A Economia Circular faz parte da solução
A Economia Circular também desempenha um papel fundamental na redução da sobrecarga da Terra, cujo modelo econômico de produção e consumo busca eliminar desperdícios, reduzir a poluição, manter os materiais em uso e regenerar sistemas naturais.
Desde 1990, três setores ampliaram significativamente as emissões globais de GEE: processos industriais (+174%), transporte (+71%), e fabricação e construção (+55%), onde além de contribuírem para o aumento de emissões de gases que impulsionam o aquecimento global, estes setores estão associados a um alto consumo de recursos naturais, como água e matérias primas, e à utilização de combustíveis fósseis para a geração de energia.
“As empresas têm uma grande responsabilidade nesse cenário e deveriam adotar modelos de produção mais circulares além de educar e conscientizar seus colaboradores, fornecedores e clientes para a sustentabilidade e o consumo mais consciente, em harmonia com o meio ambiente e sua biodiversidade”, destaca Felipe Seffrin.
De acordo com a Pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2022, do Instituto Akatu e da GlobeScan, 84% dos brasileiros querem reduzir seu impacto individual sobre a natureza. “Faltam, portanto, ações por parte das empresas para ajudar a transformar esse desejo por sustentabilidade em ações práticas tanto na compra quanto no uso e no descarte”, alerta Felipe.
Para os especialistas do Akatu, as empresas podem atuar na economia circular adotando ações para:
- Evitar excessos e desperdícios na produção e na distribuição
- Reduzir a quantidade de recursos (naturais ou não) utilizados
- Desenvolver produtos mais duráveis e mais sustentáveis (design circular)
- Apoiar a reciclagem, a logística reversa e a reutilização de materiais
- Implementar sistemas eficazes de gestão de resíduos
- Investir em programas internos e externos de educação e conscientização
Eletricidade de baixo carbono
Aumentar as fontes globais de eletricidade de baixo carbono de 39% para 75% permite que essa data seja adiada por 26 dias globalmente, de acordo com informações da GFN. Essa ação é importante, porque a energia é responsável por mais de 80% das emissões de carbono do mundo.
“Acreditamos que a solução é um mundo mais elétrico e mais digital. É o que chamamos de Eletricidade 4.0, que consiste no uso mais eficiente e inteligente da energia, aplicando ferramentas e tecnologias inovadoras que já existem, como a Inteligência Artificial (IA) e a Internet das coisas (IoT)”, explica Marcos Matias, presidente da Schneider Electric Brasil.
Um exemplo claro são os edifícios inteligentes, onde a aplicação de soluções que controlam o acesso dessas edificações pode detectar o número de pessoas em um ambiente e, assim, oferecer a possibilidade de economizar energia elétrica e reduzir gastos quando um espaço não está em uso. A iniciativa é válida para indústrias dos mais variados setores.
De 2018 a 2022, a Schneider Electric fez com que seus clientes reduzissem as suas emissões de CO² em 440 milhões de toneladas e, até 2025, o seu objetivo é reduzir 800 milhões de toneladas de CO² emitidos no ambiente. Todas essas ações, de líderes e empresas, permitirão reduzir a carga de carbono e retardar o Dia da Sobrecarga da Terra.
No Brasil, a Schneider Electric também lançou em julho o movimento “Agentes de Impacto” que convida líderes locais de empresas e entidades a desenvolverem iniciativas concretas de descarbonização por meio da transformação digital, da eletrificação e estratégias sólidas de sustentabilidade.
Pilares estratégicos
A sustentabilidade é uma demanda crescente em todos os segmentos de mercado e está no centro das ações da BASF, sendo um dos pilares estratégicos de sua atuação. Por isso, soluções que proporcionam redução no consumo de materiais e de energia, evitando emissões de gases de efeito estufa, são foco da companhia. “Esse é o nosso Jeito E, onde combinamos produção química E sustentabilidade a partir de nossas fábricas na América do Sul”, explica Ana Michi, consultora de sustentabilidade da BASF.
A estratégia começa com metas globais que impactam toda sua cadeia produtiva, entre elas, alcançar emissões líquidas zero de CO2 até 2050. A primeira etapa é reduzir as emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo em 25% até 2030, em comparação com 2018.
“O compromisso da BASF com a sustentabilidade e a proteção do meio ambiente é uma jornada que vem sendo trilhada há anos. Estamos sempre desenvolvendo estratégias concretas de restauração, redução de gases efeito estufa e economia circular”, enumera Michi.
Em 2022, a BASF adquiriu certificados de energia renovável I-REC que zeraram a emissão de CO2 proveniente do consumo de energia elétrica para todas as unidades produtivas na América do Sul da empresa. Programas voltados para melhorias contínuas do uso de equipamentos e processos também reduziram o consumo de gás natural, liberando menos gases de efeito estufa.
Este ano, a BASF concluiu seu projeto de integração da cadeia produtiva de poliamida 6.6. da linha Ultramid®A. Trata-se de um polímero utilizado, entre outros, na produção de plásticos de engenharia que agrega uma série de benefícios nas aplicações, contribuindo para processos mais sustentáveis. No setor automotivo, mercado em que o plástico de engenharia tem maior demanda, o produto pode substituir o metal em componentes estruturais e de chassis, reduzindo o peso do automóvel e, consequentemente, o consumo energético na sua fabricação e no seu uso. No caso de carros elétricos, a construção mais leve melhora a eficiência energética.
A poliamida pode ser reciclada, promovendo a circularidade na cadeia dos plásticos e reduzindo efluentes e emissões. Nesse sentido, a companhia possui o Circulaí, programa de economia circular para coleta e ressignificação de resíduos de poliamida 6 e 66 dos nossos clientes e parceiros. Os componentes reciclados são usados em tampas de motores, filtros, componentes de cadeiras, entre outras aplicações.
No caso da Suvinil, marca de tintas decorativas da BASF, a atuação é pautada no entendimento de que o futuro se constrói com as ações do presente e que a sua responsabilidade vai além da tinta. Recentemente, com os princípios da economia circular, a marca anunciou seu programa de Logística Reversa, que recolhe embalagens e sobras de tintas de todas as marcas para reciclar e coprocessar, facilitando o fim da jornada de pintura do consumidor com uma solução sustentável.
O diferencial do projeto está no pioneirismo da fabricante em requalificar não somente latas, mas também sobras de tintas. Nesse caso, esse tipo de resíduo vai para coprocessamento, virando energia novamente para outros processos industriais como, por exemplo, a produção de cimento. Até o momento, mais de 11 toneladas de material já foram encaminhadas para processamento energético e reciclagem, em mais de 194 coletas, distribuídas em diversas regiões do país.
Os impactos ambientais do programa já apresentam resultados relevantes. Até maio 2023, mais de 3,1 milhões de litros de água e 391 kWh de energia foram economizados e cerca de 40,9 kg de emissão de CO2 na atmosfera foi evitada. Além disso, 45,4% do material coletado foi reciclado e preservou cerca de 12,3 toneladas de minério de ferro, 6,9 toneladas de carvão mineral e 591 kg de calcário.
De acordo com Felipe Seffrin, coordenador de comunicação do Instituto Akatu, ONG focada no consumo consciente e na sustentabilidade, usar mais recursos naturais do que o planeta é capaz de regenerar significa riscos à biodiversidade e à qualidade do ar, dos solos e das águas, além de representar um cenário insustentável para o nosso presente e futuro. “Por isso, é fundamental que a sociedade como um todo faça a sua parte. As empresas, por exemplo, podem investir em novas tecnologias de produção e gestão de resíduos, além de ações socioambientais de preservação e regeneração do meio ambiente. Já os cidadãos podem praticar o consumo consciente no dia a dia, evitando excessos e desperdícios de recursos naturais, para amenizar essa sobrecarga na Terra. Afinal, não temos um planeta B!”, explica Seffrin.
Promoção da biodiversidade
Mantida pela BASF desde 2005, a Fundação Eco+ é uma consultoria e centro de pesquisa para sustentabilidade. Com foco em mensuração, a OSCIP (Organização da sociedade civil de interesse público) orienta negócios e instituições que pensam no longo prazo e querem desenvolver seus valores econômico, social e ambiental de forma integrada.
A Fundação fica localizada em uma reserva florestal de Mata Atlântica, a Reserva Suvinil, localizada no Complexo de Tintas e Vernizes da companhia, em São Bernardo do Campo (SP). A área corresponde a 30 campos de futebol. Conectada a um grande maciço florestal e à floresta atlântica da Serra do Mar, a reserva faz parte da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São Paulo, reconhecida internacionalmente pela Unesco.
Uma das principais iniciativas da BASF em parceria com a Fundação Eco+ é o programa de compensação de CO2 Mata Viva®. Iniciado em 1984 como um projeto de restauração florestal das margens do Rio Paraíba do Sul, em Guartinguetá (SP), que ficam próximas do Complexo Químico da BASF. Até hoje, iniciativa já reestabeleceu mais de 149 hectares no local, o que corresponde a cerca de 150 campos de futebol. Isso permitiu uma absorção de 180 mil toneladas de CO₂ da atmosfera.
Atualmente, o programa está presente em outras unidades produtivas da BASF, como a fábrica de insumos para cuidados pessoais em Jacareí e o centro de P&D em Santo Antônio de Posse, ambas no interior de São Paulo. Além de ter apoiado diversos produtores rurais pelo Brasil para restaurar as Áreas de Preservação Permanente (APP) de suas propriedades. Ao todo, o Programa Mata Viva® já acumula 1,4 milhões de árvores plantadas e 800 hectares de florestas restauradas.