
48% das empresas brasileiras de capital aberto divulgam relatório anual de sustentabilidade ou integrado, revela estudo feito pela Grant Thornton
A Grant Thornton Brasil, companhia global de auditoria, consultoria e tributos, acaba de finalizar um estudo que visa a demonstrar o atual cenário das empresas de capital aberto no Brasil em relação à adoção das práticas de reporte relacionadas ao tema ESG.
Nas 328 empresas pesquisadas, foram identificados diversos segmentos de atuação, cujos principais são:
Transporte e Logística
Energia
Construção Civil
Comércio (Atacado e Varejo)
Bancário e Serviços Financeiros
Tecnologia e Comunicações 6%
Saneamento
Indústria Química
Têxtil, Vestuário e Calçado 4%
Outros
Apesar de 48% das empresas divulgarem o relatório anual de sustentabilidade ou integrado – principalmente dos setores de energia e transporte, com os maiores índices, 19% e 17%, respectivamente, seguidos pelo de saneamento (10%) –, apenas 8% desses relatórios são auditados ou revisados por entidade independente. Outro dado importante é que 49% das empresas incluem a indicação ou link referente ao local onde o relatório com as informações ESG pode ser encontrado.
Com relação à elaboração dos relatórios, 48% das empresas divulgam as metodologias ou padrões seguidos, utilizando principalmente o Global Reporting Initiative (GRI) – 46%; International Integrated Reporting Council (IIRC) – 22%, e o Sustainability Accounting Standards Board (SASB) – 21%.
Energia e saneamento
Os temas materiais são divulgados por 31% das empresas pesquisadas em seus relatórios ESG, no entanto, somente 8% informam as metas relacionadas a esses temas, com destaque para os setores de energia (27%), transporte (19%) e saneamento (15%).
% de metas informadas por tema
Equidade de gênero
Gestão de resíduos
Poluição Atmosférica – Emissão de gases 19%
Uso eficiente da água
Gestão de fornecedores
Uso de fontes de energia renováveis 5%
Equidade social
Uso eficiente de energia
Gestão de riscos
Saúde e segurança do trabalho
O estudo aponta, ainda, que 12% das empresas divulgam os temas materiais em outros relatórios, como o Relatório de Administração, Demonstrações Financeiras e Informes Trimestrais, mas menos de 1% das empresas, do setor de saneamento, divulga as metas relacionadas aos temas materiais nesses relatórios.
% de metas informadas por tema
Qualidade da água
Equidade social
Adoção de políticas
Quanto à adesão aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 35% das empresas contribuem com dois ou mais objetivos. Nessa questão, se destacam os setores de energia (21%), de transporte e logística (18%), saneamento (10%) e bancário e serviços financeiros (9%).
Entre os ODS com maior nível de aderência pelas empresas, o item “trabalho decente e crescimento econômico” ocupa o topo da lista, com 30%, seguido pela “ação contra mudança global do clima” (26%) e “indústria, inovação e infraestrutura”, com 25%. Muito próximos às três primeiras posições estão os itens “saúde e bem-estar”, “consumo e produção responsáveis”, “paz, justiça e instituições eficazes” e “igualdade de gênero”, todos com 24%. Nas três últimas posições, se encontram “erradicação da pobreza” (12%), “vida na água” (9%) e “fome zero e agricultura sustentável” (7%).
ESG
Dos três aspectos englobados pela sigla ESG (ambiental, social e de governança, do inglês), governança é o pilar que recebe mais atenção em divulgação por parte das empresas brasileiras de capital aberto:
. 85% divulgam sua política de Gerenciamento de Riscos;
. 84% divulgam o Código de Conduta e Ética;
. 83% divulgam a existência do Canal de Denúncia (interno ou de terceiros);
. 81% divulgam a existência de uma área de Gerenciamento de Riscos e de Compliance;
. 79% divulgam informações sobre Anticorrupção, Programa de Integridade e práticas para sanar desvios e/ou fraudes.
Além disso, mais de 60% das empresas contemplam entre os fatores de riscos questões sociais, ambientais, climáticas e relacionadas a fornecedores, e 74% divulgam política ou prática de remuneração do conselho de administração e/ou demais executivos.
Nas questões ambientais, 30% das empresas avaliadas divulgam seus inventários de emissão de gases de efeito estufa, principalmente as dos setores de energia (22%) e de transporte e logística (19%).
No que se refere a questões sociais, 63% das empresas tem práticas de Promoção da Diversidade, Equidade e Inclusão, mas os dados ainda são tímidos: 38% divulgam o número de colaboradores por gênero; 11% divulgam número de colaboradores por cor/ raça/ etnia; 26% divulgam número de terceirizados ou funcionários temporários; e 35% divulgam o índice de rotatividade / turnover de colaboradores.
Para Adriana Moura, sócia líder de Governança, Riscos e Compliance (GRC) da Grant Thornton Brasil, responsável pelo estudo, é importante entender como as empresas de capital aberto percebem essa crescente demanda global pelo tema ESG para auxiliá-las a fortalecer abordagens de comunicação, aprimorar processos e indicadores materialmente sensíveis de forma a responder às expectativas de todas as partes interessadas.
“As empresas ainda não estão devidamente estruturadas para alavancar todas as questões que ESG abrange ou mesmo divulgar os dados de sustentabilidade com especificidades para obter maior credibilidade junto aos investidores. Observamos que a divulgação da materialidade e metas, por exemplo, ainda é limitada”, avalia.
“De forma geral, acreditamos que a qualidade e quantidade de reportes nos temas ESG tendem a melhorar, especialmente por conta do interesse crescente de investidores e da atuação dos órgãos reguladores. Por isso, para contribuir com o avanço da agenda Sustentabilidade nas empresas, além desse estudo, estamos lançando o Programa ESG on Board, que objetiva compartilhar dados e discutir temas relevantes com conselheiros de administração e membros de comitês tanto em eventos presenciais quanto por meio de divulgações eletrônicas e no site da Grant Thornton”, revela Adriana.
Daniele Barreto e Silva, líder de Sustentabilidade da Grant Thornton Brasil, ressalta também que o principal motivador da sustentabilidade na agenda de decisão executiva, na grande maioria das organizações, ainda é a pressão pelo compliance e por questões ligadas aos riscos de reputação e à valorização da marca. “É preciso avançar e ir além dessa agenda reativa. As empresas brasileiras ampliaram seu olhar para os aspectos ESG, mas ainda há lacunas importantes. Os aspectos ambientais e sociais ainda não alcançaram o devido lugar nos reportes. Com as diversas movimentações relacionadas aos aspectos ESG, a sociedade e os investidores estão cada vez mais aptos e atentos a identificar as empresas que estão realmente comprometidas e possuem práticas concretas de sustentabilidade”, conclui.